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Carlos Henrique Marins da Silva

1962 - 2020

Ele tinha o poder de transformar histórias tristes em comédia. Há quem diga que foi ao Céu para alegrar.

Para a esposa Elizabeth, ele era o "Bolota", ou apenas "Lota", como ela carinhosamente o chamava.

Alegre, gostava de músicas antigas e de um bom pagode. Mas seu gosto musical era bastante eclético, e incluía Djavan, Legião Urbana e o cantor Ferrugem também.

Às sextas-feiras, costumava encontrar os companheiros de sempre para relaxar após o trabalho. Ao chegar em casa, abria o fim de semana de agrados para as netas Nicolly, Giovanna e Júlia, e também para as filhas Gabrielle e Giselle: levava pizzas, pães de queijo, e não podia faltar o "xixigerante" ─ as netas gargalhavam toda vez que ele pronunciava daquela forma). Ele jantava bem e ainda dava umas beliscadas na pizza com as netas.

Parte dos sábados era reservada para o futebol e a cervejinha com os amigos. Todos os domingos, na hora do lanche, era sagrado fazer o "cachorro-quente do vovô" ─ ele não deixava ninguém se meter, só ele podia fazer.

Ele também nunca esquecia de levar quatro cervejas para "relaxar no domingo" enquanto curtia a família no dia de folga contando piadas que só ganhavam risos e mais risos pela forma como ele as contava. Ele era muito especial em tudo para a família. O carinho com que tratava seu Jorge e dona Eneyde, os sogros, era recíproco, como se fossem pais e filho.

Elizabeth conheceu "Bolota" e conviveu com ele por trinta e três anos. Ela conta que sempre fazia o almoço que ele gostava e reunia a família nos finais de semana, mas quando era dia de jogo do Flamengo, o fanático torcedor deixava tudo de lado e ficava vidrado em cada lance.

"Toda vez que saíamos ou íamos a alguma festa, ele queria usar sempre a mesma roupa: calça bege e blusão verde", conta Elizabeth. "Ele era muito unido à família, amava os sobrinhos Juan e Ramon", relembra ela.

Os cunhados Carlos e Katia também tinham um lugar especial no coração dele. Foram sempre amigos. "Ele era uma pessoa boa que possuía defeitos como todo mundo. Seu sonho era se aposentar e viver tranquilo com a família", confidencia a esposa.

Estar ao lado de Carlos Henrique, o eterno Bolota, era diversão na certa. Ele conseguia mudar o humor de qualquer um.

Há quem diga que ele foi ao Céu para alegrar e, sobretudo, ajudar tantas almas que partiram tristes durante a pandemia.

Carlos nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 57 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Carlos, Elizabeth Barbosa da Silva. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Renata dos Passos e moderado por Lígia Franzin em 4 de abril de 2021.