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Carlos Laine Ribeiro

1953 - 2021

Era puro amor, até mesmo quando bagunçava todo o fogão para fritar seu apreciado torresmo.

"Pai, avô e marido prestativo e extraordinário", é assim que a neta Thaís introduz Carlos, ou melhor, Carlinho, como era carinhosamente chamado por todos. A filha Juliana complementa apresentando o pai como o dono do "abraço mais gostoso do mundo".

O observador Carlinho era "meio bicho do mato", gostava do silêncio, não era fã de música alta e nem de futebol. A filha lembra que, de vez em quando, ele gostava de ir ao bar com os colegas de trabalho para conversar e beber uma cerveja. Por onde passava, cumprimentava a todos e "não tinha como não gostar dele, era uma alma bondosa", afirma Juliana.

A pressa de Carlinho ao telefone contrastava com o seu jeito atencioso; ele "não era muito de ficar falando, observava mais", diz a filha. Embora não tivesse tanta paciência para conversar, todos os dias, bem cedinho, antes das oito da manhã, ligava para Juliana. Criou esse hábito quando a filha se casou e mudou-se para outro estado. Segundo ela, o pai sempre era rápido ao telefone e, se ela demorava na conversa, ele dava um jeito de encerrar o contato dizendo "ah, tá, tá, tá".

Dedicado à família, Carlinho conciliava os papéis de marido cuidador, pai preocupado e avô amoroso. Companheiro de quase cinco décadas de Aparecida, com quem teve os filhos Luciano e Juliana, também foi avô de Thaís, Thiago e João. Era muito "solícito para ajudar toda a família", afirma a neta.

Seu jeito brincalhão não dava trégua para as adversidades da vida, visto que, para Carlinho, não tinha dia ruim. Gostava de fazer piadas com a esposa, para que rissem juntos, e também de deixar Aparecida brava, o que acontecia quando ele sujava o fogão depois de preparar pururuca de porco.

"Ele cozinhava melhor que minha mãe", confessa Juliana, que explica que Carlinho era quem fazia o café da manhã todos os dias. A filha recorda ainda que, enquanto a mãe aproveitava todas as oportunidades da vida, especialmente após o transplante de rim que a permitiu sair mais, o pai preferia ficar em casa. A exceção eram os dias das visitas que ele fazia para sua mãe durante a semana para comer pão caseiro e beber café.

Com Luciano, o convívio era diário, já que pai e filho trabalhavam juntos. Essa proximidade possibilitou Carlinho construir uma ligação muito bonita com os netos Thaís e Thiago desde bebês. A neta recorda como o avô gostava de dirigir ouvindo a rádio local e amava comer doces, encontrando, às vezes, pelo carro o seu pacote de paçoca.

Mesmo de longe, Carlinho mantinha uma forte relação com seu outro neto, João, usando a internet. O vínculo se estreitou ainda mais quando o convívio se tornou presencial durante os meses em que o menino e sua mãe, Juliana, passaram na casa de Carlinho e Aparecida.

Saudosa, Juliana narra como foi esse tempo de convivência com toda a família, em que a vó Cida fazia almoço e todos comiam juntos, dizendo que a conversa rolava solta, "falávamos alto, um pegava no pé do outro, contávamos fofocas".

No último domingo em família, quando Juliana e a sobrinha se reuniram para conversar, ouviram de Carlinho a pergunta brincalhona sobre qual seria a fofoca do dia. Mesmo sem fofocas naquele dia, enquanto as duas conversavam sobre assuntos bobos, Carlinho as olhou e riu. Assim, se divertiram e riram todos juntos.

No começo daquela semana Carlinho positivou para a Covid e na quinta foi hospitalizado. Pouco tempo depois, Aparecida seguiu o caminho do esposo. Ele partiu em uma segunda-feira e ela no final da mesma semana.

Emocionada, a filha acredita ter recebido um sinal do pai após visitar seu jazigo. Ao entrar no carro pensou: "Porque Ele vive, eu posso crer no amanhã. Porque Ele vive, temor não há", versos de uma música cristã que a fez sentir uma vontade imensa de saber notícias da mãe. Chegou ao hospital minutos antes de Aparecida fazer sua passagem. Por isso, a filha crê que o pai a levou até a mãe, como se Deus a estivesse preparando para mais uma partida.

Confiante na ação de Deus, Juliana acredita que Ele a permitiu se despedir de seus pais e, assim como sua família, se apoia nos momentos vividos juntos e na fé em que Carlinho e Aparecida permanecem para acalmar seu coração.

Carlinho, o homem simples de pele rosada, honesto, caseiro, acolhedor, cuidador e amoroso "deixou o seu legado aqui na Terra e descansou em paz", finaliza a neta Thaís.

Para conhecer a história de Aparecida, visite a página de Aparecida Cardoso Ribeiro.

Carlos nasceu em Bela Vista do Paraíso (PR) e faleceu em Londrina (PR), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta e pela filha de Carlos, Thaís Luciane Ribeiro e Juliana Cardoso Ribeiro . Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Rosimeire Seixas, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 3 de novembro de 2021.