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Carlos Roman Viscarra Perez

1964 - 2020

Boliviano apaixonado pelo Brasil, criava "bolivianidades abrasileiradas” na culinária e na vida.

Ele nasceu na Bolívia e apesar dessa nacionalidade, curiosamente, era chamado de "Chile" pelos amigos. No Brasil, trabalhou como eletricista automotivo e de manutenção hospitalar. Quis o destino que ele conhecesse a brasileira Cícera: foi amor à primeira vista! O ano era 1992 e a paixão avassaladora logo virou a certeza de que seria para sempre! Três meses depois, ele a pediu em casamento. Essa união de culturas e afetos logo deu frutos — na verdade, flores: Danielle, Viviane e Sara, as filhas que eram motivo de orgulho, alegria e amor desse pai extraordinário.

Carlos tinha riqueza em saberes e sabores. Em termos de saberes, era extremamente curioso. Amava assistir a documentários. Quais? Absolutamente todos! Por causa desse hábito, ele reuniu um vasto acervo de conhecimentos, que iam de vida selvagem, nos mais diversos cantos da Terra, até a vida fora deste planeta. Era impressionante! Além de muitas outras manias e peculiaridades que possuía e que necessitariam de um tributo específico para contar.

Cozinhar era seu hobby, sendo reconhecido como um genuíno especialista em culinária boliviana. A essa forte raiz, Carlos foi acrescentando pitadas de brasilidade, incrementando o seu menu para lá de especial: sopa de amendoim, empanadas bolivianas para o café da tarde e muito mais. Dominava como ninguém a arte de misturar condimentos, arriscar sabores, investir em texturas: foi um artífice da culinária! Usava esse talento para demonstrar amor: um tempero que não faltava em nenhuma de suas receitas. Os almoços de domingo eram preparados com esmero e não podia faltar a sopa de amendoim. A filha Viviane recorda com emoção essa característica especial do pai: “Hoje restam as lembranças do aroma, dos truques, das receitas, tão únicas... E além de todas as coisas tão boas que ele nos deixou, guardamos também esses temperinhos em nossas almas, que jamais nos esqueceremos”.

Carlos foi um ser humano de muitas virtudes. Uma delas, a bondade, esteve presente durante toda a sua vida. Era um homem muito bom e gostaria de ser lembrado como tal. Prestativo, estava sempre disposto e pronto para ajudar a quem precisasse, sem esperar nada em troca. Vivia na plenitude espiritual que poucas pessoas possuem hoje em dia. “Eu diria, sem medo de errar — e quem o conheceu sabe disso — que meu pai foi um anjo na Terra; hoje, ele é um anjo no céu”, diz Viviane.

Um homem alegre, amado e muito querido por todos. Deixou muitas saudades e boas lembranças.

Carlos nasceu em Comarapa (Bolívia) e faleceu em São Paulo (SP), aos 55 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Carlos, Viviane Viscarra. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 31 de agosto de 2021.