Sobre o Inumeráveis

Carlos Simões Louro Junior

1951 - 2020

Craque de bola, sinuca e dança. Amou sem limites a esposa, pais, irmã, filhos e netos.

Carlos Simões falava com muita propriedade sobre o hoje Centro Histórico de Santos, também sobre os cinemas em que assistia, no Canal 100, aos gols de Pelé nos anos 60, muitas vezes machucando o seu amado Corinthians. Ele também contava sobre os blocos de carnaval e como alguns deles se tornaram escolas de samba. Era apaixonado pela X9 desde os primeiros dias da escola de samba do bairro do Macuco, mas gostava mesmo era da época em que os blocos desfilavam na Avenida João Pessoa.

Após trabalhar alguns anos na padaria que seu pai, comerciante, abrira em Cubatão, Carlos foi estudar direito na Universidade Brás Cubas, em Mogi das Cruzes. Em 1984 tornou-se o primeiro presidente da OAB de Cubatão, participando ativamente pela fundação dessa subseccional e da retomada da autonomia político-administrativa da cidade.

Carlos teve apenas uma namorada por toda a vida. Conheceu a esposa logo que chegou a Cubatão, no final dos anos 60. Casaram-se em 1973, e desde então "jamais deixaram apagar a chama do amor que os uniu", como conta o filho do meio, André. Além dele, há também Thiago e Neto.

No início da advocacia, Carlos teve um único terno por um bom tempo, porque "a grana era curta e não nos podia faltar nada".

No início dos anos 80, a família se mudou para o bairro do Jardim Casqueiro. Bom jogador e entendedor da arte, ao notar a qualidade da molecada do bairro, Carlos fundou o Unidos do Jardim Casqueiro, com o escudo do Corinthians. O Unidos passa a disputar campeonatos locais e jogos amistosos com a Portuguesa Santista, o que faz a garotada lembrar com enorme carinho do Seu Carlos, como era conhecido. Nessa época, ele atuava no veterano do Casqueiro e os filhos adoravam vê-lo jogar.

"Já nos anos 90, seja no Saveiro clube de praia, na Associação dos Advogados de Santos ou em jogos pela advocacia cubatense, chegamos a formar um meio campo com eu, meu pai e meu irmão, que era fantástico. Grandes memórias", diz André. "Ele nos amou tanto que abriu mão de jogar sua bola. E ele jogava muita bola, para nos acompanhar em jogos, pistas de skate, corridas de bicicleta..."

Além do futebol, Carlos também amou "absurdamente" a esposa, por mais de 50 anos. Exemplo disso era que todo mês de maio, quando ela faz aniversário, ele lhe dava flores todos os dias do mês. "Nunca os vi num simples passeio em volta do quarteirão que não fosse de mãos dadas", conta André, e prossegue: "Meu pai gostava de recordar, nos almoços de domingo, com requinte de detalhes, o primeiro encontro, o primeiro beijo, o horário que tinha de levá-la em casa".

Além de oferecer este amor abundante à esposa e filhos, amou como filhas as noras Kátia, Gisele e Fabiana, bem como seus pais Carlos e Hilda, e sua irmã Hildinha. "E ele amou demais o ofício de vovô. Foi o melhor avô que meus sobrinhos Matheus e Lucas poderiam ter", diz André.

Quem não o conhecia poderia até achar que se tratava de um sujeito bravo, o que, por vezes, ele era.

André se encaminha para o fim de sua homenagem: "Meu velho tinha o maior coração do mundo. Ele foi puro amor e eu o amei todos os dias de minha vida. Ele era uma rocha. Um gigante que nos protegeu até hoje, e tenho certeza que continuará protegendo de onde estiver. Descansa em paz, meu velho."

Carlos nasceu em Santos (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo filho de Carlos, André Simões Louro. Este tributo foi apurado por Jéssica Avelar, editado por Júlia de Lima, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.