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Carmen Soares Portella

1938 - 2020

Para todas as ocasiões tinha um chá milagroso. De mãos dadas com seu marido, cuidou da família com amor.

Carmen foi uma ariana destemida, muito corajosa e encarava a vida sempre de frente. Cheia de energia e vontade de viver, irradiava alegria por onde passava.

Criada pela avó Mariquinha, santista de nascimento, passou a viver no interior de São Paulo, Araraquara e São Carlos; e foi em São Carlos, durante um carnaval, que conheceu João de Albuquerque, aquele com quem construiria uma vida conjunta logo em seguida.

Carmen e João já não tinham mais os pais, assim investiram suas vidas na constituição de sua própria família; geraram três filhos: Maristela, Joseane e João, e dois netos que eram seus xodós: Clara e Vítor.

Juntos construíram uma casa em Riacho Grande, distrito de São Bernardo do Campo, local onde seus filhos passaram a infância e, mesmo após se mudarem de Riacho Grande, gostavam de ir lá nos finais de semana para tomar cerveja, comer pastel e fazer churrasco.

Formavam um casal adorável e juntos praticavam pilates, cuidavam das plantas e estimavam ficar na companhia dos animais que resgatavam: os cachorros Sid e Manny e os gatos Samara, Fritz e Malévola; porém, a característica principal dessa dupla, que vivia unida em todos os momentos, era ficar de mãos dadas; até para assistir televisão gostavam de ficar assim.

Como mãe, Carmen fazia tudo o que podia pelos filhos, até morou fora do país para ajudar a filha na Inglaterra por três meses; e cuidava dos netos enquanto os pais trabalhavam; dizia à filha Maristela: "fica tranquila, vão trabalhar, construir o futuro de vocês, que do menino eu cuido"; sempre otimista e alegre, garantia que tudo tinha jeito e que no final, tudo ia terminar bem.

Conhecia todos os gostos dos netos, fazia as preferências da neta Clara que morava com ela e servia a comida que tinha que estar quente na hora que Vítor chegava, para ele não ter o "mau-humor da fome".

Ir ao mercado ao lado de Carmen era até engraçado, porque ela conhecia todo mundo e ia parando e conversando nos corredores; na rua, puxava papo com todo mundo, onde estivesse.

Participava de uma turma de ginástica com 18 amigas, com quem fazia vários passeios de ônibus e o que ela mais gostava: viajar. Se alguém convidasse a Dona Carmen para uma viagem, ela já estaria com as malas prontas.

Muito organizada, gostava de cuidar das suas ervas e fazer o chá preferido de cada um; para todas as ocasiões tinha um chá milagroso - como por exemplo o de limão para resfriado - e sabia muitas, mas muitas simpatias.

Para os filhos foi mãe, amiga e anjo da guarda, pois ajudava em todo e qualquer perrengue que precisassem e, quando a coisa apertava, combinavam de rezar com ela no mesmo horário cada um da sua casa.

Carmen e João foram vítimas do coronavírus. Ele faleceu primeiro, ela mesmo sem saber dele, sentiu saudade e também partiu. Estão como sempre de mãos dadas na lembrança da família, neste Memorial e no céu. Para conhecer a história do esposo, visite a página de João de Albuquerque Portella.

Carmen nasceu em Santos (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 82 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Carmen, Maristela Aparecida Portella. Este tributo foi apurado por Criles Monteiro, editado por Criles Monteiro e Karina Zeferino, revisado por Sandra Maia e moderado por Rayane Urani em 31 de maio de 2021.