Carmine Antônio de Chiara Filho

1952 - 2020

Com ele, os relógios do céu não ficarão mais atrasados.

"Preciso mudar de profissão!", esbravejava Carmine toda vez que lhe saltava das mãos uma minúscula peça do relógio que consertava. No entanto, logo o seu peito se enchia de orgulho ao ouvir a primeira badalada do relógio pedestal que ele tinha acabado de fazer para funcionar.

Em seguida, o “cuco” indicava o horário de descanso, ele fechava a loja e ia para o repouso noturno. Em seu apartamento, os companheiros eram a televisão e o celular, pois utilizava o telefone para encurtar a distância que o separava do seu filho Caio, da nora Fran e do neto Renatinho, de nove meses, que só conhecia por vídeos e fotos, pois moram em Santiago, no Chile.

Carmine era um homem de vida pacata, grande sonhador, filho do meio de uma família de 11 irmãos. "Ele era introspectivo, porém muitas vezes engraçado nas falas, principalmente quando dizia que não fazia parte deste mundo, o que justificava pelo fato de participar do mundo das engrenagens dos relógios e acabar percebendo as coisas e as criaturas de diferentes formas e maneiras", conta a ex-esposa Maria da Glória.

Ela relata que ele conversava com "Deus e o mundo" quando se sentia à vontade nos lugares. Também tinha muitas ideias de pequenas invenções, que sempre deixava no papel. "Acreditava em Deus e em muitas coisas, principalmente que o Fluminense seria campeão do Campeonato Brasileiro em 2020!", diz Maria.

Carmine deixa irmãos, sobrinhos, amigos, neto, e seu filho, companheiro das torcidas dos jogos de futebol nos finais de semana e de muitas peladas no quintal de casa. Deixa também, por realizar, o sonho de ter o neto em seus braços pela primeira vez. Mas seu relógio deste mundo parou, e agora Carmine há de continuar a cuidar dos tiquetaques lá do céu.