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Cesar Augusto Martins Medeiros

1960 - 2020

O beatlemaníaco que era o maior companheiro de seu filho.

"Voa, Paizola, livre como um pássaro...", homenageia o filho Caio.

"Meu pai, meu amigo, para mim um verdadeiro herói. Não existia e nunca vai existir igual a ele. Dá pra imaginar um cara que adora os Beatles, sabe tudo de informática, compõe e canta música brega e ainda se afunda no sofá ao lado do filho pra ver direto duas temporadas de The Walking Dead num só dia? Esse era o Paizola. Minha mãe só olhava e sorria. Desconfio que devia haver uma piscadela de olhos entre os dois de cumplicidade. Ele era assim, de dentro de casa, ele era nosso, da nossa pequena família.

Essa paixão pelos Beatles ele me ensinou a ter. E eu cresci vendo meu pai desfilar seus dedos nos teclados e nas cordas de sua guitarra e de seu violão as música da banda inglesa, sempre dizendo a mim e a minha mãe: “um dia iremos a Liverpool, na Inglaterra. Um dia conheceremos a terra dos Beatles”. Mas como diz a música dele, “sem você aqui, tudo é tão tristonho sempre!”.

Meu pai nunca cansava de ajudar quem quer que precisasse. Sempre atencioso, sonhador, amoroso, o carinho sempre nas mãos que ofereciam música e préstimos, que saudades!

E quando juntava os amigos pra cantar não era diferente. Dividia as alegrias e as sofrências das músicas que compunha, gravando. Mas gostava mesmo era de tocar e gravar músicas com os amigos mais próximos. Formou algumas bandas. Fez até sucesso na cidade e gravou discos, até ganhou direitos autorais. Suas músicas tocavam nas rádios. Eu tinha orgulho de ouvir meu pai cantando.

Mas ele não era ambicioso e por isso nunca ficou famoso nem rico. Era funcionário público e honrava seu trabalho com informática. E sabia muito sobre o assunto. A música era uma paixão, assim como nós, sua família. Em família, fazíamos nossos passeios gostosos inesquecíveis. Adorávamos cinema e séries de TV. Ele era um cara determinado a viver e a construir uma vida feliz, então uma simples caminhada por uma praça ou parque já era um dia divertido.

Meu pai era temente a Deus, católico, nos dizia repetidamente que era pra acreditar sempre n'Ele. Dizia que, quando se acreditava que tudo iria dar certo, nunca dava errado. Diante de qualquer problema, parece que estou ouvindo ele falar: "filho sempre diga: eu estou imunizado pelo poder de Deus".

E agora, Paizola, como diz sua música, “Sem você aqui”, estamos honrando sua dedicação ao mundo. Que saudade!"

Cesar nasceu Belém (PA) e faleceu Belém (PA), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

História revisada por Sandra Maia, a partir do testemunho enviado por filho Caio Augusto Santos Medeiros, em 22 de maio de 2020.