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Cícero Romão Batista

1942 - 2020

Gostava de comer cuscuz, balançar na rede e ouvir um modão. Fez desses momentos oportunidade para ser feliz.

Ainda jovem, ao deixar a terra natal e ir rumo ao estado de Goiás devido à perda dos pais, Cícero começou a rechear sua bagagem de histórias. Não era à toa que ele sempre tinha algo para compartilhar, principalmente sobre tudo que a juventude lhe proporcionou.

Essa facilidade em alargar-se fez com que colecionasse amizades duradouras que manteve contato até o fim da vida. Também cultivou um alicerce maior: a família. Pai de Cíntia, Cícero, Cilas e Luiz Carlos, essas quatro heranças que deixou foram frutos dos quarenta e seis anos de união com Maria Olinda, a dona Linda. Estiveram juntos por todo esse tempo e só vieram a se separar por cerca de um mês, quando a Covid levou dona Linda primeiro. Logo em seguida, seu Ciço, como era carinhosamente chamado, foi ao encontro da companheira de longa data.

Das memórias impossíveis de não serem automaticamente associadas a seu Ciço, a neta Geovana destaca: “Balançar na rede, ligar o som do carro com um modão e beber uma cervejinha. Ele também adorava comer cuscuz. Sempre que terminava de almoçar, falava: 'Comi que só um lobo!' É impossível ouvir isso e não se recordar dele.”

Forte e consciente da brevidade do existir, seu Ciço não deixava de desfrutar o presente por entender que em algum momento as coisas chegariam ao fim. Era por isso que, mesmo sendo diabético, vez ou outra se permitia comer um doce e beber uma cerveja. Costumava dizer que não sabia quando seria a última vez e, assim, fez de sua passagem um verdadeiro experimento de momentos prazerosos e alegres em cada oportunidade que surgia.

A história da esposa e parceira de vida de Cícero também está guardada neste memorial e você pode conhecê-la ao procurar por Maria Olinda de Souza Batista.

Cícero nasceu em João Pessoa (PB) e faleceu em Aparecida de Goiânia (GO), aos 78 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Cícero, Geovana Campos. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 22 de março de 2021.