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Cinira Campos da Cunha

1937 - 2020

Com seus cabelos claros e lindos olhos azuis, emanava luz por onde passava.

Para a população do distrito de Taciateua, onde morou boa parte de sua vida, era carinhosamente chamada de Dona Neca. Funcionária pública aposentada, viúva de Aid Carneiro da Cunha, foi casada com ele durante 34 anos e construíram uma linda e numerosa família, com oito filhos: Mário Luiz, Joseli, Alacid, Paulo de Tarso, Mariluz, Lúcia Maria, Vitória Maria e Daisy, 14 netos, 11 bisnetos e o um tataraneto, que logo chegará ao mundo, para dar alegria a família.

Por ter um grande espírito acolhedor e sempre preocupada com todos, os sobrinhos a chamavam de mãe Neca. Ela era a generosidade em pessoa, com uma solicitude sem igual, não media esforços para ajudar quem precisasse. Se soubesse de alguém doente, ensinava a fazer chás e ainda dava remédios.

Assídua nos grupos de dança “Mais vida na melhor idade”, do Centro de Referência a Assistência Social, quando alguma amiga do grupo dizia que não ia participar de alguma apresentação, por falta de alguma vestimenta, ela logo dava jeito, emprestava suas roupas, sapatilhas, colares, adornos, e ainda pedia para filha Daisy arrumá-las e maquiá-las.

Tinha o prazer em acolher parentes, amigos e amigos dos amigos em sua casa, pois gostava de ver a casa sempre cheia e cozinhar para todos. De uma alegria contagiante, amava dançar e não gostava de ver ninguém parado nas festas. Adorava viajar em excursões, onde fazia muitas amizades e as preservava com muito orgulho.

Uma católica fervorosa e com uma fé inabalável, era muito devota de Nossa Senhora da Conceição, São Raimundo Nonato e Santo Onofre. Ela dizia, que “Quem é devoto de Santo Onofre, sempre tem alguém de fora para comer conosco”, então só cozinhava em panelas grandes, caso alguém chegasse, não poderia ficar sem comer.

Uma avó sempre preocupada com os netos, ligava diariamente para todos, perguntando se precisavam de algo e eles diziam: “Minha avó querida, não se preocupe, que estamos bem!” e a resposta dela era: “Não me escondam nada, se precisarem me fale!”

“A minha mãe foi feliz e, por ironia, um vírus nos tirou o nosso maior tesouro. Lembrar o quanto ela fez para os outro, na tentativa de trazer alegria para algumas senhoras, que se sentiam tristes devido à convivência ruim que tinham em casa, me sustenta”, relata carinhosamente, a filha Daisy.

Cinira nasceu em Santa Maria do Pará (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Cinira, Daisy de Nazaré C. da Cunha. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Lucas Cardoso, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.