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Cirineu da Gama Costa

1962 - 2021

Certa vez, tirou as sandálias dos próprios pés para oferecê-las a um catador que trabalhava descalço.

Alagoano, esteve no Ceará durante toda a sua vida. Foi de cortador de cana a industriário. Demitido após 27 anos de trabalho, esteve desempregado nos últimos 12 que antecederam a sua passagem. Pai de família, deixou esposa, duas filhas e um neto.

"Então, meu pai foi um homem muito caridoso. O que tinha de rispidez, em proporção maior, tinha a caridade. Não negava ajuda a ninguém. Certa vez, cheguei em casa e ele estava descalço; tinha dado as suas sandálias a uma pessoa que passou catando lixo e estava desprovida de calçadas. Sempre ajudou. Dizia que fazia a sua parte. Era um homem zeloso, limpo, honesto. Íntegro. Lembro que o levei ao centinela e, lá sendo atendido pelo médico, ele rejeitou os remédios concedidos de forma gratuita… Ele disse que tinha em casa e, que para não faltar, ele deixou para quem não tivesse condição de pagar.

Seus olhos verdes se fecharam naquela UTI e tenho certeza que quando se abriram, viram Deus.

Não escapou da Covid, mas sabe que tudo foi providenciado até a sua partida. Nada lhe faltou. Tudo o que pedi a Deus, Ele concedeu. Meu pai mereceu anjos na terra: os funcionários do hospital, amigos e até desconhecidos olharam por ele. Deus o honrou de muitas maneiras; muitos milagres vi acontecer. Uma de suas últimas e poucas palavras era que estava pronto para o que Deus tivesse para ele. Como ele me faz falta!".

Cirineu nasceu em Maribondo (AL) e faleceu em Juazeiro do Norte (CE), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado Filha de Cirineu, Bruna Soares Da Gama. Este tributo foi apurado por Ana Macarini , editado por Ana Macarini , revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 21 de novembro de 2023.