1967 - 2021
Ele era o riso solto; tudo era motivo para tentar fazer uma piada, sempre sem maldade.
Claudimir era o sexto filho de Armando e Tereza. Na casa, em Campinas, cidade onde nasceu, o caçula dormia no quarto com os pais e no outro dormitório dormiam os irmãos. Na infância, teve como animal de estimação o Chico, um macaco. A dupla aprontava muito, e Chico servia como escudo para o menino quando Tereza queria repreendê-lo.
Desde novinho, Claudimir era muito curioso. Mais do que frequentar a escola, gostava mesmo era de montar e desmontar objetos e brinquedos e arrumar o que tinha conserto, como sua bicicleta. Essa vocação levou vida afora, até se tornar um programador de máquinas, na metalúrgica de Campinas onde trabalhava com um dos irmãos. “Meu marido sempre foi muito inteligente, sempre buscou conhecimento”, lembra a esposa Ana Lúcia. Juntos, viveram e construíram uma história de quase trinta e cinco anos. E o início dessa história é da adolescência dos dois.
“Eu tinha 13 anos, e ele 15. A minha irmã do meio morava em Campinas, e eu em São Paulo. Eu passava as férias na casa dela, que era bem de frente da casa dele. Eu ficava na sacada e ele na varanda da casa... ficávamos nos olhando”, recorda. As lembranças dessa época incluem uma ida ao cinema com a futura cunhada, para assistir E.T., o Extraterrestre, e partidas de banco imobiliário com o novo amigo. A irmã de Ana Lúcia resolveu voltar para São Paulo, e aí, por três anos, Ana Lúcia e Claudimir perderam o contato.
Como Ana Lúcia acredita e muito em destino, depois desses três anos, a irmã decidiu retornar para Campinas. Onde ela alugou um apartamento? Atrás da casa da família de Claudimir. Na primeira visita à irmã, Ana Lúcia se deparou com o vizinho... Arrumando o telhado da casa dos pais. Tereza, a futura sogra, viu Ana Lúcia e comentou com o filho, que, para vê-la, levou a sobrinha pequena para que Ana a conhecesse. Dali em diante, não se separaram mais.
Em três anos, namoraram, noivaram e casaram. Dessa união nasceram Amanda, filha única do casal e a casa, construída com muito esforço, na cidade de Valinhos. Na família, também havia espaço para cachorrinhas, trens e aviões — estes últimos, paixões de Claudimir. Luana, Liana, Laika e Coca foram as cachorrinhas da família.
Entre os programas preferidos com a família, Claudimir elegia os churrascos, os passeios e ver o Guarani — time campineiro cujo amor herdou do pai — no estádio Brinco de Ouro da Princesa, junto da Amanda.
Fazer churrasco era a marca registrada dele. O corte preferido de todos era o cupim. “Ele amava estar com a família e sentiu muito o distanciamento quando começou a pandemia”, diz Ana Lúcia. Nas horas de folga, gostava de passear com a esposa e a filha. Fazia busca pela internet, escolhia estradinhas no meio do mato e levava Ana Lúcia e Amanda para o passeio. Praia não era o ele mais gostava, mas para alegrar a esposa, não deixava de ir ao Litoral. “Ele me mimava, agradava mesmo”, recorda a esposa.
Entre os hobbies prediletos estavam a observação de aviões e trens. Em determinado período da vida, a residência da família ficava na rota das aeronaves. Ele acompanhava em radar. Quando a rota foi deslocada para outro local e os aviões não sobrevoavam mais a casa, ele se chateou. Aí, passou a brincar de simulador de voo. As aeronaves voltaram a sobrevoar a residência três semanas após a partida de Claudimir.
Os trens também marcaram sua vida, desde pequeno, quando o pai o levava para passear nos trens da região. Próximo à residência, tem o trilho. “Sempre que tinha trem turístico, ou alguma locomotiva diferente, ele ficava sabendo pelos grupos que participava e descia lá para acompanhar”, explica Ana Lúcia.
Claudimir amava fotografia. Sempre registrou momentos com a família na câmera que usava filme. O gosto influenciou a filha Amanda, hoje fotógrafa profissional.
“Ele era uma pessoa simples, que não ligava para bem material. Não gostava de luxo. Ele se importava mesmo era com companhias e momentos bons para se guardar.”, enfatiza a esposa, que compartilha uma das crenças do marido: "Não levamos nada daqui, apenas deixamos momentos!"
Claudimir nasceu em Campinas (SP) e faleceu em Campinas (SP), aos 53 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa de Claudimir, Ana Lucia Tirelli Bachiani. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Patrícia Coelho, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 28 de janeiro de 2022.