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Cláudio Corrêa

1948 - 2020

Ele caía no sono enquanto comia. Estava imerso em seu maior sonho: ''aposentar a vassoura'' de Alice.

Um homem extraordinário que teve ao todo seis esposas e 15 filhos. Era vigilante e, por onde passava, logo fazia amizades. Quando ficava desempregado, não se abatia, dava logo um jeito.

Cláudio era uma pessoa extrovertida e alegre, um pai maravilhoso. Andava assoviando pela rua, e ao ouvirem seus silvos, todos já sabiam que era ele quem vinha chegando. "No bairro onde moramos, foi um baque para todos, pois ele era um senhor muito amado. Um guerreiro!", diz a filha Rosane.

Manter-se informado – essa era uma das coisas que ele mais gostava, além dos jogos de futebol que amava assistir pela TV. Também gostava de tocar seu pandeiro e de fazer os outros rirem com suas piadas. Certa feita, teve seu pandeiro escondido pela esposa, pois ele tocava o instrumento dia e noite. Como ele resolveu isso? Comprou logo outro, e maior!

Segundo Rosane, existem incontáveis histórias engraçadas que poderiam ser citadas aqui, mas ela escolheu, ao invés disso, mencionar um episódio de superação de seu pai: "Houve uma época em que ele e a família estavam passando dificuldades e, mesmo assim, ele não desistiu, não ficou parado. Correu atrás... tornou-se um catador de latinhas. Hoje, sua família tem estabilidade financeira, superou... e tudo isso graças a ele."

O maior sonho de Cláudio era "aposentar a vassoura" da sua querida esposa, Alice. "Ele sonhava em vê-la aposentada e com sua casa própria", conclui Rosane.

Cláudio nasceu em Angra dos Reis (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 72 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Cláudio, Rosane de Mélo Corrêa. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Lígia Franzin, revisado por Mateus Teixeira e moderado por Rayane Urani em 6 de novembro de 2020.