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Claudio José da Silva

1963 - 2020

Pai superparceiro e avô apaixonado. Um homem de bom coração, que não deixou seu irmão sozinho nessa luta.

Claudio foi pai, filho, marido e avô extraordinário.

Adorava trabalhar como profissional de logística, mas com o desemprego, assumiu o cargo de encarregado na parte de obras da prefeitura da cidade de Mesquita. Mesmo assim, trabalhou com toda dedicação até o último dia antes de adoecer.

Mantinha com a filha, Daiana, uma relação muito especial, de amizade, admiração e, acima de tudo, de amor. "Não tínhamos apenas uma relação de pai e filha, éramos verdadeiros amigos, grandes parceiros para tudo, até em simples rotinas, como comprar roupas e favores do dia a dia", conta ela.

"Ainda lembro bem quando dei a notícia da gravidez. Ele ficou bravo! Não queria ser considerado velho, nem ser chamado de vovô. Sempre vaidoso, estilo garotão, achava que era muito jovem para ser avô. Mas isso mudou e logo se fez presente em todas as consultas do pré-natal, foi comigo à feira de gestantes e ficou o dia inteiro aguardando o parto no hospital", conta Daiana.

"Éramos verdadeiros amigos, grandes parceiros para tudo", relembra a filha, com saudades, e complementa: "O relacionamento dos meus pais começou quando minha mãe tinha apenas 15 anos. Foram 36 anos de união, uma família que morava no mesmo terreno, típica da baixada carioca, com a rotina compartilhada e muito unida. Eu e Cláudio Junior demos a eles as paixões da vida de meu pai: o neto Calebe, de 7 anos e a neta Lara, de 4 anos."

Sempre muito presente na vida dos netos, não perdia as apresentações na escola do mais velho. Fará muita falta aos pequenos. Daiana conta que seu filho não consegue mais tomar café com leite porque era o avô que o fazia, diariamente, no seu retorno da escola. Na última vez, disse que ninguém conseguia fazer o café igual ao do vovô. Isso causou muita dor a todos. Já a caçula, Lara, ficou chateada porque, segundo as palavras dela: "o vovô meteu o pé para o céu e deixou a família"... Ficaram todos sem reação, conta a Daiana.

Cláudio era o primeiro a topar qualquer festinha em família. Para ele, tudo era alegria e motivo para um churrasquinho no fim de semana. Outro prazer dele era passear na praia. "Lá iam, ele e meu marido, com uma caixinha de som, o cooler azul, cheio de latinhas e curtiam o dia inteiro. E sempre falava: 'Se o mundo acabasse agora, eu morreria feliz'... Impossível olhar o mar agora sem me lembrar do meu pai", diz Daiana.

Com seu "estilo garotão", gostava de correr e sempre malhou em casa sozinho. Muito vaidoso, sempre era o último a ficar pronto na hora de sair. A rotina não mudava: todos dentro do carro esperando ele se aprontar, e ele ainda falava: "eu não estou com pressa". Mas no final dava tudo certo, pois a família se acostumou com os hábitos de Cláudio.

Em 2019, por caminhos tortuosos, quis o destino que o outro filho de Claudio voltasse a morar com a família, dando a linda oportunidade para que ele vivesse, desde então, com todos reunidos.

"Quando ele adoeceu, não sabíamos que todos em casa estávamos contaminados e ele ficou isolado no meu quarto, em razão de ter mais conforto. Mas ele só se preocupava com minha mãe. Meu irmão chegou a ficar internado junto e a dividir o oxigênio com ele, mas se recuperou. Já meu pai, ficou muito abatido ao saber da partida do irmão mais novo e, três dias depois, não resistiu", lembra a filha.

Daiana faz questão de recordar-se de um sábado em especial, o último antes do adoecimento do pai, quando ele brincou com o neto e a neta, em um dia lindo de sol, algo que adorava fazer.

"Ainda é difícil de acreditar. Às vezes acho que vou receber uma ligação dele, falando que está chegando para almoçar. Ele sempre dizia: 'Independentemente de qualquer coisa, o importante é ser bom do coração'. E ele foi. Meu parceiro fará muito falta, mas sei que ele e meu tio, que também teve direito a um tributo, estão recebendo todo nosso carinho em um lugar lindo. Não é um adeus é só um até logo", fala com emoção Daiana.

Com o isolamento tudo se tornou mais difícil, triste e solitário. Para Dona Júlia está sendo mais cruel... seus dois filhos partiram, ao mesmo tempo. Mas eles tinham uma coisa em comum: a preocupação e o carinho com a mãe. Sempre que possível, almoçavam com ela. Toda reunião de família, como no próprio aniversário da mãe, estavam sempre presentes e faziam questão de registrar os momentos com fotos. No último Dia das Mães, ambos aparecem na foto, ao lado dela. Sinal de que, sempre, onde quer que estejam, estarão ao lado de Dona Júlia!

A filha e os demais familiares seguem buscando maneiras de prosseguir sem a presença de Claudio, lembrando-se do amor que os unia e, no caso da filha Daiana, do mais especial parceiro que ela teve consigo.

Para ler a homenagem ao irmão de Claudio, procure por Sandro Eduardo Nascimento da Silva, neste Memorial.

Claudio nasceu em Mesquita (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Claudio, Daiana Padilha da Silva. Este tributo foi apurado por Carla Cruz e pela jornalista Denise Pereira, editado por Fernanda Queiroz Rivelli, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 9 de julho de 2020.