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Cláudio Taú

1950 - 2020

Um homem de coração grande, líder comunitário, que amou seu país e cuidou muito bem de sua família.

Pessoa extremamente social, apaixonado por futebol, líder comunitário em Sapopemba, sindicalista e palmeirense, seu Cláudio por vezes fazia a linha de brabo, mas tinha um coração enorme.

Gostava de transitar pelas associações esportivas do bairro, participar do samba, tocar tamborim e comer churrasco. Sempre estava disposto a ajudar alguém que o procurasse com um problema e ficava muito feliz em reunir a família toda na praia nos verões.

Descendente de italianos, tinha olhos azuis, nariz grande e torto, e bem encorpado da comilança de massa, que não podia faltar na mesa de domingo.

"Quando jovem, ele organizava um bailinho iê-iê-iê no bairro, chamado 'Os feras', e foi lá que conheceu minha mãe", conta a filha Joice. "Lembro quando ele comprou um box de CD dos Beatles e ficava o dia inteiro escutando."

Seu Cláudio tinha mania de conserto e de desmontar motores de carros. Seu Corcel foi sua paixão. E também suas ferramentas, que tinha muito ciúmes de emprestar.

Também era bastante patriota, tinha orgulho de dizer que serviu o Exército. Mostrava às filhas fotos e dizia que lá aprendeu a costurar. "Dentre tantas coisas, a costura foi o que o marcou, talvez porque na época homem não aprendesse essas coisas em casa", diz Joice.

Viajou bastante pelo Brasil, tinha amigos espalhados pelos quatros cantos do país. Trouxe imagens e músicas de Parintins para casa em São Paulo, quando ninguém na cidade sabia do que se tratava. Contou histórias, maravilhado, sobre Manaus. Também falava muito do Ceará e especialmente de Jericoacoara, de onde trouxe muitas fotos e cartões-postais.

Segundo Joice, ele costumava dizer: "Primeiro a gente tem que conhecer nosso país, que é imenso, para depois viajar para fora". Foi com ele que ela aprendeu a viajar pelo país, e todo ano escolhe um lugar diferente do Brasil para conhecer.

Nos últimos dez anos, seu Cláudio estava cadeirante e passou por momentos bastante difíceis. A filha mais velha, Ana Claudia, conta que ele sobreviveu a um assalto, no qual foi baleado, e ficou paraplégico. "Ele sofreu anos com dores, mas mesmo assim se mantinha firme, pois achava que ainda podia ajudar muita gente estando por aqui", diz ela, para quem os esforços dele para continuar depois da tragédia tiveram de positivo lhe render mais alguns anos com os netos. Cláudio deixou esposa, três filhas e três netos.

Sobre o convívio com o pai, Joice acrescenta: "Sempre vou ter em minha memória a imagem dele tirando todas as filhas e sobrinhas para dançar samba, forró ou rock'n'roll nas festas de família".

"Toda despedida é triste, mas meu coração está tranquilo, pois sei que meu pai, o seu Cláudio, deixou neste plano uma família forte, unida e com muita potência para fazer um mundo diferente. Chegou a hora de dizer adeus, ou até logo, pois sei que nossos espíritos vão se encontrar ainda para se abraçar e bater um papo", finaliza ela, com um misto de tristeza e alegria.

Coração grande é de família.

Cláudio nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de Cláudio, Joice e Ana Claudia Taú. Este tributo foi apurado por Carla Cruz, editado por Phydia de Athayde, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 18 de julho de 2020.