1952 - 2020
Além das habituais palavras sábias, os que partilhavam sua mesa conheciam seu talento na cozinha e nas piadas.
Clementina, que era chamada de Cle, nasceu em família muito pobre, no litoral de Santa Catarina.
Destacou-se desde muito cedo por uma notável inteligência que lhe garantiu o recebimento de bolsas de estudo em escolas particulares, às quais frequentava de pés descalços, pois não tinha sapatos. Não obstante a esta falta de condições materiais, sua dedicação era tanta que tornou-se conhecida como a menina da letra mais bonita de sua época, chegando a receber um troféu de honra ao mérito pela dedicação e desempenho.
Aos 18 anos, mudou-se para Curitiba em busca de trabalho e, na cidade, além de ser telefonista, continuou estudando e se formou como técnica em Contabilidade. Não se dando por satisfeita, cursou ainda a faculdade de Letras e, aos 40, conquistou o 2º lugar num concurso público federal.
Casou, teve dois filhos e conseguiu formá-los. Teve um neto. Casou novamente após o divórcio e, em meio às inúmeras atividades, fazia questão de estar com a família, que era composta do marido, filhos, enteados e netos de ambos.
Cozinhava muito bem e cada encontro em sua casa era um verdadeiro banquete no qual “sempre tinha feijão no potinho marrom”, apreciado por todos.
Nenhum aniversário era esquecido por ela, se havia algo que se podia esperar, era seu carinho infalível nessas datas.
Dona de múltiplas habilidades, tocava um pouco de violão e de teclado. Apreciava bons filmes e livros. Sua vida foi um estudo constante, podendo ser comprovado pela extensa biblioteca que deixou formada.
Converteu-se e tornou-se evangélica fervorosa. Aposentou-se e encontrou motivação para cursar uma segunda faculdade, a de Teologia e, depois, para fazer ainda um mestrado na área. Sua inteligência, competência e esforços foram reconhecidos ao receber o cargo de pastora em sua igreja.
Na nova função ─ que abraçou como uma missão de vida ─, ajudou as pessoas como podia e de diferentes formas. Uns ela ajudou financeiramente. Com outros ela colaborou na superação de traumas pessoais. Seus prazeres eram estar na presença de Deus e ajudar os aflitos.
Discreta, calma e elegante em suas ações, partiu da mesma forma que sempre viveu. Deixou exemplos de superação, renovação, amor e sabedoria.
Clementina nasceu em Jaraguá do Sul (SC) e faleceu em Curitiba (PR), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Clementina, Lucia Nikkel. Este tributo foi apurado por Yasmim da Silva Tabosa e Hélida Matta, editado por Vera Dias, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 26 de janeiro de 2021.