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Clemilde Santin de Arruda

1939 - 2020

Dona de um abraço apertado e perfumado e de uma presença que ressaltava a beleza das coisas simples.

Mide, também chamada de Milde, era mãe orgulhosa de Evenilton e Emériam, seus filhos biológicos, e de Márcio, seu "filho de coração". O primeiro se mudou para Bebedouro, São Paulo, a segunda para a capital capixaba e o terceiro para o Nordeste.

Após o falecimento de seu marido e já com princípio de Alzheimer, os três filhos não permitiram que a distância fosse um problema para unir esforços em nome da mãe e a levaram para viver perto de Emériam, em uma casa de repouso.

Mesmo de longe, Márcio, que era um verdadeiro viajante, não esquecia de sua mãe de coração. Enviava a ela cartões postais de diferentes cantos do mundo e esses lembretes da conexão entre os dois foram muito bem-recebidos.

"Aos poucos, sua memória foi ficando embaralhada", lembra Márcio, "mas sempre que chegávamos, a memória voltava". No fundo, não houve mal de Alzheimer capaz de fazer Mide esquecer o amor que sentia e que lhe era demonstrado até mesmo em pequenos gestos.

Emériam brinca que Márcio era o preferido da mãe, mas qualquer pontinha de ciúme que tenha existido foi ofuscada pelo tempo que as duas puderam passar juntas. Com frequência, a filha ia visitar Clemilde, buscá-la para um almoço ou levá-la em um passeio para tomarem um sorvete.

As oportunidades de desfrutar a alegria das coisas simples fizeram bem para as duas. Foi só quando passou a morar em Vitória que Mide finalmente pôde comemorar seus aniversários, em festinhas surpresas organizadas por Emériam, na casa de repouso.

Aliás, naquela casa, Clemilde viveu vários momentos felizes ao lado de suas "meninas", as amigas que também moravam ali. Juntas, ouviam Roberto Carlos, de quem Mide era uma grande fã, e participavam alegremente de aulas de musicalidade.

Como música, fica a lembrança do gostoso e sonoro "bem ê" que Mide usava para chamar a todos. Tão característico que, especialmente entre os amigos da casa de repouso, a fez ganhar o carinhoso apelido de "Bem".

Clemilde nasceu em Santa Rita do Passa Quatro (SP) e faleceu em Vitória (ES), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos familiares de Clemilde, Márcio Luiz de Almeida e Emériam M. de Arruda Cunha. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Larissa Reis, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 26 de junho de 2020.