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Cleonice Antônia da Silva

1951 - 2020

Um vestido rodado e um sapato vermelho. Assim ela ia, toda linda, ao forró.

Seu tamanho não condizia com sua força. Era pequena, mas o gênio era forte, como conta sua filha Lucrécia.

Sempre muito ativa, não conseguia parar por um instante sequer. Acordava cedo. Arrumava a casa e lavava a roupa. Preparava o almoço.

E que almoço delicioso! Sua comida tinha gosto de puro amor. Talvez porque tivesse o carinho como tempero.

Também cuidava do netinho. "Esse é o bebê da vovó", dizia, apertando-o para demonstrar o quanto o amava. Por fim, ainda sobrava tempo para se exercitar!

Quando podia, saía para dançar um forrozinho que tanto gostava.

Muito vaidosa, estava sempre bem arrumada e adorava um procedimento estético.

Cleonice deixa um rastro de amor e luz, além de saudades que não cabem em palavras.

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A casa de Cleonice cheirava a bolo e café quente. Era uma dona de casa dedicada e cozinheira de mão cheia, conhecida por ser tão caprichosa na culinária. Adorava aprender receitas novas.

Fazia muitos doces e bolos, sempre com seu radinho velho que ficava na cozinha ligado pois gostava de ouvir música enquanto cozinhava. Tinha mania de limpeza e amava cuidar de seu jardim, que agora está sob os cuidados de sua família.

Foram 56 anos de matrimônio com Manoel Inacio, seu primeiro e único amor, que a chamava carinhosamente de Senhora Mequilius. Os dois adoravam sair para dançar, um dos hobbies preferidos de Cleonice. Manoel diz que ela é sua eterna namorada.

O casal teve três filhas: Lucrécia, Luana e Lucelia. Cleonice sempre foi muito cuidadosa com as filhas e tinha muito orgulho de tê-las formadas e trabalhando. Era apaixonada pela sua família, amava ver todos reunidos, mas era seu neto Fernando a sua grande paixão e encanto. Ela o amava incondicionalmente, dizia que era um amor inexplicável.

Cleonice respirava família e amor. Era uma pessoa humilde, muito guerreira, valente e que não tinha preguiça para nada. Era baixinha de tamanho, mas tinha um coração enorme, sempre preocupada com todos.

"Seguiremos conectados neste amor para sempre. A melhor mãe, avó e esposa do mundo! Me faltam palavras para descrever uma pessoa tão importante em nossa pequena família. Aquelas lindas flores no jardim representam você nesta casa, mamãe. Sem dúvidas será lembrada por nós todos os dias nesta vida terrena", diz a filha Luana.

Cleonice nasceu em Santo Antônio de Lisboa (PI) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelas filhas de Cleonice. Este tributo foi apurado por Acsa Tayane, editado por Mariana Coelho e Raiane Cardoso, revisado por Monelise Vilela Pando e Didi Ribeiro e moderado por Rayane Urani em 27 de junho de 2020.