Sobre o Inumeráveis

Cleuza Carlos

1946 - 2020

Dizia ''sim'' para tudo, menos para largar o copo de leite com café.

Cleuza tinha como singularidade a dificuldade de dizer “não”. Bastava alguém bater em sua porta que a resposta era sempre positiva. “Podíamos pedir o mundo, e ela falava que ia conseguir para nós”, conta sua filha Paula.

Começou a trabalhar muito cedo e dedicava sua vida ao trabalho, pois não aceitava a possibilidade de algum dia faltar algo para as filhas e netos.
Da dor de passar por dificuldades ela entendia bem e, por isso, nunca negava um prato de comida a quem lhe pedisse e se esforçava para manter a família sempre satisfeita.

“Às vezes, estava comendo em uma lanchonete e alguém lhe pedia um lanche e, tendo dinheiro apenas para pagar um, dividia o seu com quem lhe pedia. Uma vez ela saiu com sua neta Maria Eduarda e lhe pediram dinheiro. Como sempre, ela deu, mas esqueceu que sua neta iria usá-lo para pagar a passagem e tiveram que pedir a quantia para o retorno. Até hoje minha filha se lembra desse episódio”, conta a filha Paula.

Ela era um porto seguro que atraía muita gente com sua alegria e maneira intensa de viver a vida, que ela dizia que era feita para sorrir. Não gostava de cara feia e sempre insistia para sairmos de casa para passear.

Tinha muito orgulho de seu pai, José Carlos, que lutou na Segunda Guerra Mundial na Itália e de suas duas filhas que se formaram em doutoras advogadas.

Ela gostava muito de café com leite, por isso estava sempre com um copo na mão, não importava a hora nem o lugar.

Divertia-se ao sair escondido do marido para tomar sorvete, porque, por ser diabética, era proibida e achava que se ele não soubesse não aconteceria nada.

Sempre ia a shows e levava sua neta Maria Eduarda para pular carnaval.

Tinha muito ciúme da cantora Alcione, a ponto de seu marido não poder ouvir suas músicas.

Muito divertida e contadora de histórias, coisa que os seus netos adoravam. “Em um dia, em um passeio com toda a família, apareceram muitos cachorros que começaram a correr atrás de nós e minha mãe conseguiu correr mais rápido que todos os netos. Isso nos levou a dar muitas gargalhadas”, conta Paula.

Era uma pessoa muito religiosa e com intensos sonhos, que deixou inspiração às filhas para seguirem os delas.

Um de seus sonhos, que era morar em um sítio com seu grande amor, Antonio Maia, quase se concretizou aqui na Terra, mas hoje eles continuam com a obra no Céu.

Sonhava também em viver muitos anos para poder viajar o mundo com os netos.

“Ela falava que nunca iria nos abandonar, que só partiria quando tivesse 120 anos”, conta a filha. E, de alguma forma essa frase se realizou, pois Cleuza, com seu jeito único, está eternizada no coração de cada um que pôde conhecê-la.

A história do marido de Cleuza também está guardada neste memorial, e você pode conhecê-la ao procurar por Antonio Maia Braz.

Cleuza nasceu em Volta Grande (MG) e faleceu em Juiz de Fora (MG), aos 73 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Cleuza, Paula Otavia Carmo Braz. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Aléxia Caroline, revisado por Lígia Franzin e moderado por Lígia Franzin em 24 de dezembro de 2020.