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Conceição Januária de Freitas

1924 - 2020

Tinha um olhar meigo, um afago gostoso e não deixava ninguém escapar de seu "coadinho" com bolo de laranja.

Márcia apresenta-se como filha do coração e assim relembra Conceição: "Çãozinha, como era conhecida, a nossa mãezinha preta, que viveu conosco desde seus 20 anos de idade, quando chegou na casa da minha avó e lá ficou. Foi parceira de uma vida para nossa vozinha. Ficaram juntas e até o último sopro de vida, ela estava lá".

Na família, Çãozinha deixa a saudade de seu olhar meigo, de seu afago gostoso e de seu "beijinho cheio de amor".

Tinha "mãos de fada" para cozinhar e todos que chegavam tinham que tomar um coadinho (como chamava o café) com bolo de laranja. "Não tinha como escapar", lembra, com graça, Márcia, que morou anos com sua avó e dividia o quarto com Conceição, "uma mulher que não se pode decifrar com palavras, devido a sua grandeza".

E tinha uma memória também imensa, impecável. Sabia as datas de aniversário e de casamento de todos da família.

Conceição viveu para amar, dedicou sua vida para dar amor, carinho. "Tinha uma alma pura sem igual", descreve Márcia, que também lembra do sorriso largo, das mãos trêmulas e de "um coração tão lindo que não cabia em seu peito".

Para ela, não há segredo: Çãozinha não era desse mundo, Deus tinha outros planos. "Saudades da sua filha, te amo."

Conceição nasceu em Minas Gerais e faleceu em São Paulo (SP), aos 96 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de coração de Conceição, Márcia Helena Checchi. Este tributo foi apurado por Samara Lopes, editado por Marcia Horacio Barbosa, revisado por Gabriela Carneiro e moderado por Rayane Urani em 10 de setembro de 2020.