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Cosme Oliveira Lima

1952 - 2020

Amava música e os sons da natureza. Era responsável e contagiava todos com seu sorriso sincero.

O nome dele era Cosme, mas sempre deixou bem claro que não gostava de ser chamado assim. Ele mesmo se apelidou de Clóvis. E é assim que vamos chamá-lo aqui.

Baiano de nascimento, paulista de coração. Um jovem de família humilde, trabalhador e corajoso e que cedo partiu em busca de melhores oportunidades. Clóvis chegou a São Paulo quando tinha apenas 16 anos, disposto a desbravar novos caminhos. Conseguiu!

Os laços com a Bahia, no entanto, não se perderam. Os pais continuaram morando lá e Clóvis os visitava com certa frequência. Numa dessas idas e vindas, conheceu a jovem Tereza, por quem se apaixonou. Logo veio o namoro e, tempos depois, o pedido de casamento.

Clóvis e Tereza casaram-se na Bahia em 1978. Em seguida, foram para São Paulo. O casal escolheu o bairro Jardim Três Marias, na zona leste, para iniciar a vida. No ano seguinte, nasceu a primogênita, Samanta. Em 1982, veio a Ana Paula.

Durante trinta anos, Clóvis foi montador técnico de móveis, um trabalho exaustivo. Mesmo quando chegava em casa, cansado, nunca ousou negar um pedido para entrar na brincadeira com as filhas. Um homem honesto, íntegro e que sempre batalhou para oferecer o melhor para sua família. O amor sempre foi a base de tudo.

Clóvis era um homem de sorriso sincero. Ah, um sorriso que contagiava todos ao seu redor! Ele era uma pessoa tranquila, mas quando cruzava os braços, já se sabia: estava aborrecido.

Às filhas, nunca faltou conselho. Como um grande pai, parceiro e melhor amigo, sempre orientou as duas sobre os caminhos da vida. Falava muito sobre a importância do trabalho para a construção de uma pessoa consciente. Esse foi seu grande legado. Samanta lembra-se bem das palavras dele: "Filha, estude e faça o seu melhor, porque o conhecimento ninguém tira de você e não ocupa espaço".

Clóvis também tinha um gosto musical aguçado. Ouvia Os Beatles, Raul Seixas, Elis Regina, Wilson Simonal e Pink Floyd, gosto que foi herdado pelas filhas. Isso explica porque acordava cedo para apreciar o canto dos pássaros — era um verdadeiro apaixonado pela música e a natureza.

O tempo foi passando, as filhas crescendo, tornando-se grandes mulheres. Clóvis acompanhou Samanta em sua formatura em Pedagogia e Psicopedagogia. Depois, foi a vez de acompanhar Ana Paula na formatura em Serviço Social. O orgulho de suas meninas quase nem cabia no peito, até que chegou a vez de levá-las ao altar.

Depois que se aposentou, Clóvis nem pensou em ficar parado. Tratou logo de abrir seu próprio negócio, passando de montador de móveis a comerciante.

Ele e a esposa recebiam constantemente a visita das filhas, que mesmo não morando mais na mesma casa que eles, mantinham muito fortes os laços com os pais.

Cosme nasceu em Riachão do Jacuípe (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Cosme, Samanta Lima. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Juliana Zanatta, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 22 de outubro de 2020.