1951 - 2020
A hospitalidade foi um dos grandes gestos dessa mulher que existiu para agregar.
Parcialidade foi uma prática que não pertenceu ao modo de Creuza conduzir a vida. Sua casa era conhecida como a "casa do pão", no sentido de sempre ter algo a oferecer a quem chegasse, independentemente do rótulo que aquela pessoa possuía socialmente. Para Creuza, uma mulher simples que se alegrava com o bem-estar do próximo, seu lar deveria ser um local de acolhimento e sua presença sempre ensinava algo proveitoso para quem a rodeava.
Seu coração expansivo e agregador a fez mãe de quatro filhos originados dela ─ Adaias, Adonias, João Batista e Idalina ─, assim como de tantos outros que passaram pela sua casa e a adotaram como mãe. Creuza só foi exceção ocupando o lugar de esposa, união que perdurou por cinquenta anos, sendo atravessada pela partida de seu eterno companheiro, que a deixou dois anos antes.
Ela preparava o almoço de domingo mais gostoso do mundo, a ponto de fazer a filha Idalina parar tudo o que estivesse fazendo para estar com ela saboreando seus pratos deliciosos.
Se causasse mágoa em quem amava, Creuza resolvia de uma forma que não abria espaço para que o perdão não viesse. Certa vez, no aniversário de 24 anos da filha, ela parou a rua inteira para transmitir uma mensagem de perdão a Idalina, história especial que a filha guarda com muito carinho por saber o quanto a mãe não cultivava o orgulho.
Mulher fervorosa, Creuza acreditava no poder da oração e dizia em qualquer circunstância: “Vale a pena orar”. Um de seus sonhos refletia sua religiosidade, pois ansiava tirar a carteira de habilitação com o objetivo de viajar com a filha na missão de pregar o evangelho de Jesus Cristo. Ela acreditava que seu papel no mundo era servir ao próximo e também tinha convicção de que iria para o céu quando seu momento chegasse. Suas últimas palavras carregaram essa crença arraigada em seu coração e, ao lado da filha que esteve com ela até o fim, Creuza expressou o amor que sentia por ela fazendo um pedido: “Idalina, nunca deixe de usar seu vestido branco, você é a noiva de Cristo. Guarde seu coração, eu te amo!”
Uma mulher que foi a sorte na vida de muitos e deixou em cada coração suas sementes de amor e compaixão.
Creuza nasceu em Pancas (ES) e faleceu em Serra (ES), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Creuza, Idalina de Souza Costa. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Júllia Cássia, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 24 de dezembro de 2020.