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Custódio Luiz de Paula

1951 - 2021

Sua aparência séria se desmanchava em lágrimas sempre que assistia filmes com a família.

Pai amoroso, Custódio foi um exemplo de vida para seus filhos. Sempre calmo e paciente, não reclamava de nada, sempre reafirmando "A vida é uma batalha diária porque estamos sempre lutando e temos que ser gratos." Um dia de cada vez, Custódio lutava pelo melhor para sua família. Esposo, pai e avô, demonstrava seu amor através de pequenas atitudes do dia a dia. Quando ainda eram crianças, Custódio brincava de cavalinho com os filhos, carregando-os nas costas, e os colocava para dormir todos os dias. Fazia questão de preparar o café da manhã, passar a farda e engraxar os sapatos da filha, que ganhava um Fato Observado Positivo (FO+) no Colégio Militar. "Eu ganhava, mas na verdade era dele", conta ela. Valorizava muito os estudos, fazendo questão de ajudar seus filhos e sua neta, principalmente em matemática, até o último dia que pôde.

Lutou a vida inteira. Aos 17 anos, depois de concluir o Ensino Médio e o Ensino Técnico, Custódio estudou para o concurso da Escola de Sargentos das Armas junto com o seu irmão. Mesmo sem a academia, encontrou nos trilhos inutilizados do trem uma oportunidade para treinar para o teste de aptidão física (TAF). Mesmo com as chances contra ele, Custódio não desistia fácil.

Com a mesma força, lutou pelo seu amor com Maria Helena. Conheceu-a aos 30 anos, numa festa junina em Piquete (SP). No meio de tantas coincidências, se encontraram e se apaixonaram. E, mesmo com alguns problemas, Custódio não desistiu de seu amor, até que se casaram em 1982, um dia em que não conseguiu conter o sorriso, deixando que sua felicidade transbordasse. Se é verdade que os opostos se atraem, Custódio e Maria Helena eram a prova disso. Enquanto ele era calmo, Maria Helena era brava. Mas, mesmo com tantas diferenças e brigas, os dois faziam tudo juntos, até seus últimos momentos.

Como era militar, mantinha sempre uma expressão rigorosa e séria, mas na verdade tinha um temperamento tranquilo, calmo, sensível e desapegado de bens materiais. Para ele, o que importava era a família. Mesmo quando alguém fazia algo que ele considerava errado, Custódio reunia todos para que pudessem opinar sobre o caso e, depois de conversarem, chegavam a um consenso. Em casa e no trabalho, sempre foi um homem muito justo.

Sua única fraqueza foi o jogo de baralho. Mas, após cometer alguns erros, parou de apostar e manteve seu prazer jogando com a família e, ao se aposentar, com outros idosos na praça. Custódio gostava muito de jogar e levava essa diversão muito a sério, tanto que quando seu filho o apresentou ao Pokémon Go, ele amou. Saía para pegar Pokémons e até ensinou sua esposa a jogar, para que pudesse pegar os monstrinhos enquanto ele dirigia.

Mas o momento que ninguém conseguia segurar Custódio em casa era nos domingos de missa. Ele fazia questão de nunca faltar. Esteve sempre muito envolvido na comunidade da igreja, participando do grupo de casais e cantando no coral juntamente com sua esposa. Seu amor por cantar as canções e hinos da igreja nunca o abandonou. Quando sua neta nasceu e sua filha passou os primeiros meses em sua casa, Custódio cantava essas canções para acalmá-la nas noites em que tinha cólica, embalando-a na rede o tempo que fosse necessário.

Custódio sempre apoiou e amou incondicionalmente a filha, que se recorda do largo sorriso no rosto do pai no dia do seu casamento. Ela conta: "Quando eu cheguei à porta da capela a energia acabou. Ficou tudo escuro. A cerimônia estava marcada para acontecer entre 18h e 19h, então já estava escuro. Nós esperamos mais de uma hora, a luz não voltou e a cerimonialista disse que o padre queria ir embora. Nós não aceitamos, estava todo mundo ali, estava tudo do jeito que nós planejamos... resolvemos entrar no escuro. Meu pai deu um beijo na minha testa e sorriu para me acalmar. Os padrinhos entraram no escuro, o pessoal ligou a lanterna dos celulares para iluminar e quando eu coloquei o pé na porta da capela a energia voltou! Todo mundo estava chorando na cerimônia, menos meu pai. Ele era o único que sorria de orelha a orelha."

Esta é uma história de casal e para conhecer a homenagem feita à esposa busque por Maria Helena de Carvalho de Paula.

Custódio nasceu em Piquete (SP) e faleceu em Manaus (AM), aos 69 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Custódio, Tatiana Aparecida de Paula Crespo. Este tributo foi apurado por Claiane Lamperth , editado por Paula Garcia Corrêa, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 27 de julho de 2021.