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Custodio Saturnino de Freitas

1961 - 2020

Para esse Papai Noel das crianças carentes que ajudava moradores de rua, o que era dele era dos outros.

Custodio era homem alegre, um ser de luz. Foi um guerreiro desde criança, quando, aos 5 anos, ficou órfão de pai e foi criado apenas pela mãe, ao lado dos seus três irmãos. Superou as dificuldades e, da infância à juventude, da mocidade à terceira idade, seu lema sempre foi a felicidade.

Aos 23 anos, casou-se com Vanda, com quem viveu por trinta e quatro anos. E tiveram Poliane e Leonardo, que lhes deram os netos Felipe e Pietro, a razão de viver do querido e babão vovô Custodio.

"Meu pai era uma pessoa muito divertida, irradiava alegria, adorava dançar um forró e curtir seus bailes. Tinha muitos amigos e era admirado por toda a família e pela vizinhança", conta a filha Poliane.

Lutava dia a dia para ter oportunidade de ver os netos crescerem.

O que ele mais gostava de fazer era viajar para o interior, para Apiaí e Barra do Chapéu, e reencontrar conhecidos, amigos, ou fazer novas amizades. "Já internado, falou que viajaríamos para ver seus cunhados que tanto estimava, João Darci e Diva. A cunhada era para ele como uma irmã — ele adorava passar trotes e fazer pegadinhas e, mesmo doente, ainda trolava a tia Diva", relembra a filha.

No trabalho, em sua terra natal e em todo o seu círculo de amizades, deixou apenas muita saudade. Ele havia trabalhado durante vinte e três anos na fábrica Cimento Cauê, em Apiaí, e todos na cidade o conheciam desde menino. O menino que cresceu, virou um homem de bem e muito rico, rico em amizades, pois ele não fazia distinção entre as pessoas e tinha prazer em ajudar. Gostava de fazer caridade e, por onde passava, cativava as pessoas.

Em São Paulo, de 2003 a 2014, trabalhou em uma indústria química em Jandira, onde se aposentou e, é claro, deixou belas amizades.

O sonho dele era ir conhecer o Nordeste. Poliane conta que já estava combinado com o pai que, em vez da festa que ela daria para celebrar o aniversário de 60 anos do pai, ele preferiu uma viagem para a Bahia. "Seu outro sonho era andar de avião, mas, devido ao pneumotórax que teve em 2014, ele não podia fazer uma viagem dessas (por causa da altitude), pois poderiam se romper as bolhas em seus pulmões. Então ficou decidido: a viagem seria feita de navio."

Outra promessa que ficou pendente foi sua visita à cidade de Trindade e à Igreja do Pai Eterno, ao qual tinha tanta devoção quanto à Nossa Senhora Aparecida.

Além desse legado de muita humildade e bondade — que foi um grande exemplo para seus netos e filhos —, por onde passou, Custodio semeou alegria e generosidade e deixou saudades eternas nos corações de quem conheceu e conviveu com ele.

Custodio nasceu em Apiaí (SP) e faleceu em São Bernardo do Campo (SP), aos 59 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Custodio, Poliane Rafael da Mota Freitas. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Otacílio Nunes e moderado por Rayane Urani em 12 de novembro de 2020.