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Daiana Sthefanne Costa da Silva

1987 - 2020

Um verdadeiro girassol que foi graça, força e luz por onde passou.

Daiana foi um ser de luz que fez inúmeros amigos e deixou muita saudade. Ela recebeu algumas homenagens que estão eternizadas abaixo. A primeira é uma carta aberta de sua cunhada Tatiane:

Daiana, você chegou como dançarina... Com sua beleza e graciosidade cativou um lugar em nossas vidas e em nossos corações.

Trouxe a Helena como um presente de vida: a primeira neta, a primeira sobrinha, a primeira filha.

Das apresentações em palcos, dançando, você levava alegria, ânimo e diversão às pessoas.

Da chegada em nossa casa, trouxe amizade, companheirismo, cumplicidade, sinceridade e muito amor.

Mãe dedicada e carinhosa para a Helena.

Inabalável e imbatível. Você foi risonha, gentil, destemida, guerreira e realizadora.

Na jornada do magistério estivemos juntos, aplaudindo você na formatura, na aprovação no concurso, no ingresso na sala de aula... Presenciamos e testemunhamos seu envolvimento, dedicação, empenho e compromisso em fazer a diferença na vida daquelas crianças e famílias.

Brigou sempre que precisou se impor para modificar realidades com as quais não concordava. E isso, enchia todos nós de orgulho.

Sua vida foi de amor, sorrisos, lágrimas e muita determinação. A relação de amor, amizade e cumplicidade com meu irmão foi fantástica e intensa do começo ao fim.

O pedido de namoro com um quadro cheio de flores e corações, que ajudei a recortar, foi lindo e especial como você! Vocês faziam tudo juntos: riam, se divertiam, batalhavam melhorias... Construíram uma casa, um lar e edificaram sonhos. Não há ninguém que possa duvidar do amor de vocês, do quanto se davam bem, do quanto se amavam e testemunhavam isso.

Foi uma irmã para mim. Por oito anos tive uma companheira que me respeitava, me ajudava e “colava” comigo nas minhas propostas malucas de revoluções, eventos e acontecimentos.

Parceira para todas as horas. Dona das frases: “A tendência é só piorar” e “Relaxa, amiga”. Você, Daiana, foi o meu “fechamento”.

Madrinha dos meus dois filhos. Foi doce, gentil, dedicada, amorosa e cuidadosa. Sempre tinha um presente, um banho pra dar, um cabelo pra pentear, uma musiquinha pra cantar e dançar, uma novidade pra ensinar...
Não tinha como não te amar, Daiana.

Aos que permitiu que a conhecessem, deixou um buraco imenso no peito. Levou-nos um pedaço do coração.

Por ter sido tão bonita, tão boa e tão generosa sua partida causa dor... aquele tipo de dor que parece que vai nos sufocar.

Como um grande e novo presente de vida, você nos deixou a Catarina, nascida de um parto de emergência, aos 7 meses e meio de gestação. Você garantiu que um pedaço seu continuasse conosco. Você não a viu, não a conheceu, não sentiu o seu cheiro... Mas você salvou a vida deste ser tão pequeno e tão amado. E conferiu sentido e significado aos nossos dias para que consigamos seguir sem você.

Descanse em paz, doce e linda Daiana.

Catarina e Helena saberão pra sempre quem foi a mãe maravilhosa que tiveram!



Carta aberta de Josiane, amiga e madrinha de casamento de Daiana:

Querida Daiana,

Lembro-me do nosso primeiro encontro como se fosse hoje. Eu era apenas uma mulher tentando recomeçar a vida com uma criança pequena e um novo amor ─ teu amigo Daniel.

Nossas vidas se cruzaram e, daquele dia em diante, nossa amizade ─ tímida e acanhada no início ─ foi crescendo e se firmou como uma rocha. Trilhamos uma linda caminhada.

Nunca fomos daquelas amigas inseparáveis, que se falam todos os dias ou estão sempre grudadas. Cada qual envolvida nas próprias batalhas, não importava quanto ficássemos sem nos ver, nossos encontros eram mágicos. Nossas histórias eram muito parecidas. Almejamos nossos bebês e vivemos intensamente cada detalhe dos nossos sonhos.

Recebeste a mim de braços abertos, assim como a amizade dos nossos esposos, consolidada antes de fazermos parte dela. A família Silva nos acolheu, dividimos tardes e tardes de muitas risadas, bagunça e piadas ─ o que sempre foi nosso forte. Ríamos da vida, dos nossos tropeços e percalços.

Lembro-me da felicidade quando conheci a "porta da tua sala", o lar em fase de acabamento. Dos detalhes do banheiro que me mostraste empolgada, da lavanderia enorme e da bagunça do guarda-roupa. Sim, o guarda-roupa, que sempre me pedias para arrumar. Adorava separar as pilhas de roupas por cores e puxar tua orelha pela desordem. Fecho os olhos e posso te ouvir, fecho os olhos e posso ver aquele sorriso enorme que levantava tuas bochechas e espremia teus olhos.

Recordo-me com carinho do dia que me escolheste para ser madrinha de casamento, da caixinha de madeira com detalhes em azul, da flor branca que carreguei no pulso, da alegria em poder participar ─ com exclusividade ─ dos preparativos para o grande dia. Eu, barriguda, aos sete meses e meio de gestação, cansada, nervosa e ansiosa. Tu me acalmavas, tudo iria dar certo; afinal, eras tu a noiva. Quanta emoção naquela igreja! Quanta luz e energia propagada! Cada lembrança aqui é um sorriso e uma lágrima.

Comemoramos teu casamento, depois o nascimento da Juju, que tanto amaste. No primeiro encontro que tiveram, tu a seguraste forte nos braços, com carinho. Logo seria tua vez de carregar um serzinho de luz. Quando esse dia chegou, vibrei com a notícia, chorei de emoção, gravamos um vídeo da Juju te parabenizando. Ao sabermos que era uma menina, a Catarina, nossos corações explodiram. Ficaste ainda mais linda carregando um milagre.

Veio a pandemia e nossos contatos ficaram cada vez mais escassos, mas esperávamos logo nos encontrar, quando tudo passasse.

Com tua internação, começou uma grande mobilização por ti, minha amiga. Tua cunhada, minha amiga Taty, tomou a frente da situação, organizou grupos de orações, cuidou de ti, do Helton, da família, trazendo-nos alento naquele momento de muita luta.

Em meio a toda essa turbulência e todas as orações, nasceu Catarina, que passou a chamar Catarina Vitória. Um dia para ser celebrado com todo nosso amor e fé ─ sim, muita fé! Oh, minha amiga, uniste tantas e tantas pessoas em vida e em morte! Amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos oraram e oram por ti. Recebi enorme apoio e carinho de pessoas que nem sequer te conheceram, que viram meus posts, conheceram tua história, admiraram tuas fotos e torceram por ti.

Tuas fotos foram espalhadas pelas paredes da capela, todas elas com aquele sorriso enorme. Havia também flores e balões brancos, remetendo à paz que inspiravas.

Teu ciclo se encerrou, mas tua sementinha floriu em nossos corações. Catarina recebeu alta. Um milagre! Passamos os dias a orar por ti, pela pequena e por todos aqueles que se tornaram nossa família desde muito antes da tua partida.

É surreal pensar que nunca mais teremos contato físico; ao mesmo tempo, é tranquilizante pensar que um dia nos encontraremos em outro plano.

Deixo-te aqui minha gratidão por permitir partilhar tantos e tantos momentos contigo, por agregar valores a nossa amizade, por nos deixar um presente lindo, a Catarina, que vou amar, respeitar, estar presente e cuidar enquanto puder. Muito obrigada por nos deixar um legado, por nos ensinar o quão passageiros somos neste mundo e o quão gratos devemos ser. A vida realmente é um sopro.

Minha loira, foste um ser de luz! Deixou-nos fisicamente, mas vives dentro de cada um de nós.

Nunca serás só mais um número dessa pandemia, sempre serás amor!

Da tua amiga e madrinha de sonhos, te amo.



Depoimento de Márcia, uma amiga virtual, que conheceu Daiana durante sua luta contra a Covid-19:

Não conheci Daiana, não pessoalmente, não fisicamente. Não sabia como era o som da sua voz ou como era sua risada, qual seu cheiro nem sua cor ou prato predileto.

Conheço a Taty, sua cunhada, há pelo menos vinte e três anos. Estudamos juntas o magistério e eventualmente nos encontrávamos. Sigo a Taty nas mídias sociais.

Depois de 4 de dezembro de 2020 posso dizer que conheci Daiana, ou Dai, como era chamada pelos familiares e amigos. Fui incluída num grupo de orações para ela e a pequena Catarina Vitória. Era um quadro grave de Covid-19 em uma mulher aos sete meses de gestação. Isso foi o suficiente para me comover e orar por ambas. Foi uma reconexão com a oração.

Então, veio a magia do amor...

Catarina nasceu prematura, inspirando tantos cuidados quanto sua mãe. Daiana seguiu internada, entubada e lutando. Tatiane então mobilizou o mundo ─ e isso não é força de expressão. Eram orações incessantes, correntes se propagando pela restauração e cura da Dai e da bebê, mensagens carinhosas de seus ídolos (Sandy e Thaeme), vigílias no hospital, cuidados com os anjos da linha de frente... Foram dias difíceis e inimagináveis, mas Catarina estava evoluindo bem.

Após vinte e dois dias de muita súplica e oração ─ com a serenidade de pedir ao Senhor que fosse feita a Sua vontade ─, a notícia que ninguém queria: Daiana subiu aos braços do Pai, deixando paixões, sonhos e planos, mas, acima de tudo, deixando um legado de amor, fé e união.

Catarina já está em casa, no aconchego do amor. O milagre de uma família, o milagre de tantas outras famílias que, como eu, tiveram a oportunidade de conhecer Daiana: um girassol iluminado.

Sim, conheci Daiana através do amor da Taty e da generosidade da família. Sou grata por terem dividido um pouco dessa família com todos nós e nos permitir ainda vivenciar o amor de um pai que vai vencer a batalha sem perder a fé e com a certeza de que Dai estará sempre ao seu lado.



Depoimento de Anielli, uma amiga de Daiana:

Conheci Daiana em 2019, num momento em que chegávamos para trabalhar e não havia nada além de paredes e janelas no local. Já no primeiro dia ela se mostrou muito solícita e parceira. No dia seguinte, chegou descarregando cadeiras, chaleira elétrica, louças e tudo que estava ao seu alcance para tornar o dia de todo mundo ali mais confortável.

Essa era a Dai: independente da situação e sem distinção, fazia seu melhor para ver todos ao redor bem. Sua relação com as crianças, sempre bastante humana e dedicada, transbordava amor pelo que fazia. Era lindo de se ver!

Passamos momentos difíceis naquele local, mas ela, sempre religiosa e cheia de fé, nos dizia que o mal cairia por terra. Agarradas na esperança de dias melhores, ficávamos mais unidas e fortes a cada dia, dividindo nossas histórias, sonhos, dores, aprendizados e muitas alegrias, dentro e fora do trabalho, momentos que estarão para sempre na memória.

Quando penso na Dai, me vem a palavra Luz, e é assim que a vejo. Veio à terra para trazer vários ensinamentos, dentre eles: amar e sempre ter fé. Cumpriu sua missão lindamente e agora cuida de nós lá de cima. Daiana é Luz que brilhará para sempre em nossos corações e jamais será esquecida.

Daiana nasceu em Pinhais (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 33 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela cunhada de Daiana, Tatiane da Silva Lima. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin e Paola Mariz, revisado por Gabriela Carneiro e Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 25 de janeiro de 2021.