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Damiana Olindina Nunes

1944 - 2020

Dona de um coração puro e amoroso, era apaixonada por celebrar a vida junto aos filhos e netos.

Desde pequena, Damiana foi muito batalhadora; o café tornou-se uma paixão em sua vida, graças a anos passados na roça trabalhando nas plantações deste fruto, tão apreciado por todo o mundo. Nunca perdia a oportunidade de dizer o seu bordão: “Um cafezinho vai bem”.

Corajosa, saiu da roça com o marido Walter e os quatro primeiros filhos para tentar a sorte em São Paulo. Em pouco tempo conseguiram construir uma vida nova na capital paulista; e então, vieram mais três filhos. Juntos conseguiram criar com dificuldade, mas também com muita dignidade todos eles, aos quais ensinaram os princípios da fé, da caridade, da esperança, do amor e do respeito ao próximo.

Por falta de oportunidade, Damiana estudou só até a quarta série. Dizia que o estudo era tudo na vida e fazia questão de que todos os seus filhos se dedicassem aos estudos. Assim, teve como prêmio vê-los todos formados e com suas famílias construídas.

Damiana gostava demais de celebrar a vida junto à família. Todas as datas comemorativas eram para ela motivo de festa; nessas ocasiões nunca faltavam os caldeirões de feijoada que eram colocados no fogão logo cedo.

Damiana era muito temente a Deus e possuía o coração puro como o de uma criança. Quando já idosa, conservou-se cheia de vida e apreciava várias atividades como: bordar telas, pintar panos de copa, fazer crochê e, principalmente, viajar.

Com alegria festejou a virada de 2019 para 2020 desejando saúde, viagens, e muita união entre todos.

A família escolheu para homenagear sua “eterna rainha” o poema “Para Sempre”, de Carlos Drummond de Andrade:

Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite
É tempo sem hora
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba
Veludo escondido
Na pele enrugada
Água pura, ar puro
Puro pensamento
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio
Mãe, na sua graça
É eternidade
Por que Deus se lembra
- Mistério profundo -
De tirá-la um dia?
Fosse eu rei do mundo
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora
Será pequenino
Feito grão de milho.

Damiana nasceu em Barbalha (CE) e faleceu em São Paulo (SP), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Damiana, Lucineide Nunes Giannotti. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Vera Dias, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 9 de março de 2021.