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Daniel Campbell de Andrade

1985 - 2020

De voz calma, mas com certa malandrice nos trejeitos, cultivava o riso e o hábito de assistir ao pôr do sol.

Fosse em Arraial do Cabo (RJ), seu paraíso tropical, ou na capital paulista, onde recebia tratamento oncológico, Daniel mantinha o olhar no horizonte. E assim ele encarou sua jornada contra a leucemia, iniciada em 2013.

Ao longo dos anos, o biólogo passou por diversas intercorrências, além de dois transplantes de medula óssea. "Um período em que ele aprendeu a se deixar cuidar", conta a amiga Gislene.

Foi durante o tratamento de Daniel em São Paulo que a profissional da ONG Instituto Oncoguia o conheceu. Quando possível, tomavam juntos um café. Ela relembra, emocionada, o entardecer na companhia do surfista no vão do MASP, onde os dois rezaram para os pacientes dos hospitais da redondeza.

Sem apresentar sinais do câncer em 2015, Daniel começou sua contagem de dias livre da doença; no mesmo ano, criou um blogue para passar adiante sua experiência como paciente. Seu legado de palavras e imagens está registrado em "Além da leucemia".

No mês de abril, ele retomou o protocolo de tratamento e, apesar de tomar todas as precauções, contraiu a covid-19, mas se recuperou. No entanto, o que parecia estar curado retornou dois meses depois.

A partir da sua internação, Gislene e a equipe do hospital seguiram contando por Daniel os dias livres do câncer.

Foram 1.936 alvoreceres até a data da partida, bem no horário que o sol se punha, segundo a amiga.

"Dani não é um número, mas contava seus dias", ela diz.

Daniel nasceu no Rio de Janeiro e faleceu em São Paulo (SP), aos 35 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela amiga de Daniel, Gislene Charaba. Este tributo foi apurado por Jonathan Querubina, editado por Mariana Quartucci, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2020.