Sobre o Inumeráveis

Daniel Dias Soares

1952 - 2020

Piadista e super irreverente, falava palavrão à beça e amava fazer uma fezinha na lotérica.

Homenagem da filha de Daniel, Juliane:

Como acordar num mundo em que meu pai não está mais presente? Só ele mesmo poderia responder a essa pergunta. Provavelmente, ele diria algo como: “Você vai dar conta do recado, morrer faz parte da vida, vai Juvelinha, seja forte. Lizinha precisa de você, vâmo troxinha, avante um dois, um dois...”

Sinto saudade do meu pai e gostaria de discutir com ele questões sobre a vida e a morte, sobre política ou sobre qualquer assunto sem importância, como a música alta do vizinho. Saudade de pegar o celular e ver mensagem dele dizendo “Juuuuuu atende” ou “Ju kd a Lizinha véia”.

Recordo, com frequência, as conversas que tínhamos. Ele gostava de falar sobre as coisas da vida: família, trabalho, sonhos, sua identificação com as pessoas mais humildes e amava histórias de superação.

Falávamos muito sobre minha mãe e o amor infinito que ele sentia por ela — a quem chamava de “minha amada” ou “Licotinha”. Ele adorava tirar ela do sério e nunca pedia desculpas, mas também não sabia ficar brigado, nem com minha mãe nem com ninguém.

Amava quando ele ia contar sobre um vídeo engraçado que tinha visto em alguma rede social. Ele sempre começava a rir, falava rindo, e eu não entendia nada; mas ria da risada dele...

Tinha verdadeiro amor pelo seu carro e orgulho das suas casas construídas, que carinhosamente apelidamos de “condomínio”. Nunca teve preguiça de fazer uma reforma e tinha a classificação de todos os pedreiros da região.

Ainda penso que meu pai vai voltar, reclamando e perguntando "o que é que fizemos" com ele, dizendo que não precisava de hospital e que médico não sabe tudo.

Olho no espelho e vejo meu pai em mim. Na boca, nas unhas, no cabelo grosso e na força... Na força de quem contradisse todos os prognósticos médicos e melhorou quando era para piorar, e piorou quando era para melhorar.

Ele disse que esse ano ele iria parar de reformar as casas, parar de trabalhar e descansar. Descansa pai, pode descansar, a gente toca daqui. Te amamos!

Com amor, sua caçula Juvelinha.

Daniel nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 63 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Daniel, Juliane de Sousa Soares. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Juliane de Sousa Soares, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 4 de maio de 2022.