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Danielson Castro do Carmo

1988 - 2020

Uma juventude de sonhos genuínos interrompida.

Um rapaz amado, cheio de sonhos e expectativas.

Meu sobrinho dizia: "A única certeza na vida, tio, é que todos nós vamos morrer", conta Élio.

"Você respirava vida e só queria conquistar uma vida melhor (...) Meu amado sobrinho, como vai deixar saudade no meu coração e no de toda a sua família", conclui, com tristeza, o tio de Danielson.

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Danielson veio de uma família muito grande e muito unida.

Recusava-se a ser mais um rapaz cheio de filhos e sem sonhos em uma cidade pequena; queria ser reconhecido.

"Ele tinha o hábito de vir sempre almoçar na minha casa. Era aquele grupo só de rapazes: ele, os primos e amigos. Ficavam até o fim da tarde e eu dava tarefas para me ajudarem. Então, na hora do lanche, ele fazia a tapioca e divertia todo mundo com seu jeito de sempre arranjar apelidos e contar piadas", lembra Patricia, a tia, que ainda conta que Danielson não gostava do próprio nome e que tinha dois apelidos: "Kauã" ou "Kabelo", o último era apenas entre a família.

Sempre alegre, com um sorrisão no rosto, seu prazer era estar rodeado de amigos e primos, nunca gostava de estar só. Com eles, gostava de sair à noite, rir, curtir músicas... Ou então, a mania local, que era jogar baralho. Cidade pequena não tem muitas diversões, mas essa era uma delas — as rodadas iam até a madrugada.

Adorava também aproveitar o município, as praias, pescar, viajar... pegava o barco e ia para uma ilha próxima. Sempre na fiel companhia dos primos e amigos.

"Meu sobrinho gostava demais de músicas religiosas e hinos... cantava no banheiro e dizia que isso engrandecia a alma dele. Era um menino muito especial. Todos que o conheciam, se apaixonavam pela personalidade dele", lembra Patrícia.

"Kauã" era muito esforçado e sempre gostou de trabalhar e de ter suas coisas, sem depender de ninguém. Mas, a certa altura, reparou que se não fosse embora, não melhoraria a vida — a sua e a de sua família.

Cria de cidade pequena, sem oportunidade de estudar... o jovem baixinho, moreno e de cabelos ondulados, queria voar alto e não ser mais um a ficar ali, sem realizar nada.

Assim, por volta do ano de 2015, ele resolveu tentar a sorte em São Paulo. Sozinho na cidade grande, sua alegria não teve forças e, após aproximadamente dois difíceis anos, ele retornou ao seu Pará.

Mas, mais uma vez sem trabalho, o ainda tão jovem Danielson, que era amante de carros e motos, quis novamente apostar em suas conquistas, rumou mais uma vez para São Paulo. Só que dessa vez foi diferente... conheceu Elza, casou e ficou.

Trabalhava como garçom, em lanchonetes e restaurantes, e amava o que fazia. Encheu-se de esperanças. Estava pronto para alçar seus voos. Sempre fazia ligações e chamadas de vídeo para a família e disse que compraria um carro — seu maior sonho! E nele, no final do ano, iria até o Pará, para levar sua esposa para a família conhecer.

"Recebemos sua última ligação de vídeo, eu e três primos que moram em Belém. Ele contou que já estava doente, que não se sentia bem", diz a tia, que tinha Danielson praticamente como um filho. E acrescenta: "Esse vírus interrompeu o sonho desse jovem cheio de esperanças de mudar a realidade da sua família. Muito triste."

Sonhar, qualquer pessoa pode, mas são poucas que conseguem realizar.

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Um brincalhão em tempo integral que deixa de lembranças suas piadas e sorrisos. Ele era uma pessoa do bem e estava sempre alegre.

Amava muito sua família, mas tinha muitos sonhos que o levaram para longe.

Sabia se expressar muito bem com as pessoas, adorava estar cercado dos primos e amigos.

"Meu primo era muito brincalhão e, quando quebrou o braço, como adorava zoeira, falou: 'amo vocês'", lembra Leandro.

Danielson nasceu em Marapanim (PA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 32 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelos tios e pelo primo de Danielson, Élio da Silva Castro, Patricia Nazare P. de Carvalho e Leandro Castro. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 28 de junho de 2020.