Sobre o Inumeráveis

Darly Pereira de Souza

1970 - 2020

Mulher nordestina incrível, que desenhava florezinhas enquanto falava ao telefone.

Uma mulher nordestina, baiana, que tinha aquele jeitinho incrível de mãe: "Se eu for aí e encontrar, vou ficar muito brava..."

Sua filha Ingrid é quem a descreve:

Minha mãe tinha a capacidade incrível de fazer amizade com todas as idades. Não era de ir à casa de ninguém, mas recebia da forma mais aconchegante possível. Em seu lar nunca faltou café, uma boa conversa, um almoço ou um bom jantar.

Não ia a festas sem convite e ensinou o mesmo aos filhos. E conseguia ser extremamente sincera com zero chance de ser grosseira (acreditem, dá pra fazer). Sabia responder com amor e gentileza a quem se dirigia a ela com arrogância e grosseria.

E quando sonhava com bebês? Certeza que alguém estava grávida e, às vezes, até o sexo da criança ela sabia.

Ela amava tulipas. Também amava orquídeas, mas mais as tulipas. Mas não achava com facilidade pra ter em casa sempre.

Guardava caixinhas, porta-trecos, cartões, cartas, desenhos e todo tipo de inutilidade sentimental. Acho que puxei ela nisso!

Era uma pessoa totalmente despida de preconceitos, tabus e dedos. Conseguia falar sobre qualquer assunto. Sempre tinha conselhos pra dar.

Foi a única pessoa que conheci que dizia não gostar de cozinhar e cuja comida era incrível. Ela fazia a melhor lasanha da vida.

Ela chamava meu pai de "cheiro".

Minha mãe tinha medo de água, por isso não íamos a nenhuma excursão a clubes ou sítios com ela.

Era manicure, depiladora, massagista, cabeleireira, designer de sobrancelhas e esteticista. Minha mãe... Era aconchego, risada. Era lar. Mulher honrada. Mulher de Deus.

Ela faz falta demais, mas tudo que fez foi nos preparar pra este mundo difícil. Pra conseguirmos nos sair bem sem ela.

Hoje sua luz brilha no céu. Dona Darly, pra sempre te amarei.

Darly nasceu na Bahia e faleceu em São Paulo (SP), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Darly, Ingrid Sousa Schiavon. Este tributo foi apurado por Samara Lopes, editado por Marilza Ribeiro, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 29 de agosto de 2020.