Sobre o Inumeráveis

Déa Vitório Costa

1943 - 2020

O nome curto não dava conta de tamanha existência. Por isso, os apelidos: Menina, Boneca e Fofura.

Déa adorava novelas… mas novelas da Globo! A televisão era ligada ao amanhecer, com o bom-dia dado pelo jornalismo matinal. Então começava a espera para a primeira trama do dia, no Vale a pena ver de novo. Assim, seguia até a noite, com a novela das nove. Exclusivamente às sextas-feiras, estendia o horário até o boa-noite final do Globo Repórter. Déa amava viajar com os filhos e o programa era a passagem para destinos tão longes. Mas a paixão mesmo era pelas novelas.

A entrega às narrativas tinha uma preferência: as antigas, com a roça como pano de fundo. Para Déa, as novelas de época ofereciam a ela uma viagem ao tempo. Ao seu tempo de menina. De quando morava na fazenda dos pais e raspava mandioca, “muita mandioca”, como enfatizava ao contar. De quando tirava água do poço, “muita água do poço”. Tanta história da época de criança… Mas, também, pudera: a fazenda era chamada Recreio! Com as irmãs Delza e Dulce, ajudava nos afazeres domésticos. Com o irmão Décio, na roça.

Por ser a irmã do meio, era chamada de “Menina”. Quando muito bem-querer havia, “Menina minha”. Havia afeto. Muito afeto. "Fofura" também era apelido, pois quem resistia ao seu abraço macio? E "Boneca"… só de olhar para ela dava para entender o porquê: uma pele de pêssego, todinha sem rugas, só poderia render a Déa o título de "Boneca". Tantos apelidos para explicar sua existência carinhosa. Afinal, Déa amava amar. Estava sempre pronta para demonstrar carinho. Principalmente nos aniversários. A cabeça boa não permitia que ela deixasse passar uma data sequer! Lembrava de todos os dias que acolheram o nascimento dos seus afetos. Todos! Mas não precisava ser dia de festa para ser contagiado por Déa. Engraçada, ela tirava sorriso fácil de quem encontrava.

Por falar em encontros, foi na Praia de Copacabana que conheceu o amor da sua vida. Não demorou para que Monteiro reconhecesse nela suas tantas qualidades. Déa era uma mulher especial. Muito especial. Do breve encontro casual para a vida, nasceram Adriana e Alexandre.

O último aniversário, o de 76 anos, vai ficar para sempre na memória da filha Adriana. O almoço com amigos e familiares foi também despedida daquela que foi o pilar da família. Para sempre, Déa será a mulher de nome curto, tão curto que clamava por apelidos que dessem conta de tamanha existência.

Déa nasceu em Presidente Kennedy (ES) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 76 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Déa, Adriana Vitório Monteiro. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Carolina Margiotte Grohmann, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 18 de agosto de 2020.