1934 - 2020
Tinha um chamego mais que especial por sua Brasília amarela.
Dediel sentia um orgulho enorme por ter servido a Marinha do Brasil. Uma das histórias que sempre contava era sobre a marcha em que os fuzileiros navais foram a pé do Rio de Janeiro ao Planalto Central em homenagem à inauguração de Brasília. Ele relembrava esse feito com brilho nos olhos e riqueza de detalhes, tanto que chegou a contribuir com seu depoimento e acervo fotográfico para o livro "A Pé para Brasília: Crônicas de uma Marcha", de Alfredo de Souza Coutinho Filho.
Ao ser transferido de Corumbá para o Rio, fincou na cidade maravilhosa novas raízes e formou família. "Nunca faltou ou chegou atrasado ao quartel. Era de casa para o trabalho e do trabalho para casa", conta a filha Sonia.
Foi um ótimo pai, avô, esposo e pessoa, carregava alegria de um jeito próprio. Amava os animais e se solidarizava com os que via solto nas ruas. Os bichinhos também gostavam muito dele. Criou os filhos de maneira bastante rigorosa e com muito amor. "Era cheio de ditados como 'Diga-me com quem andas e eu te direi quem tu és'", relembra Sonia.
Era destemido, adorava o que fazia, mas como paraquedista teve o infortúnio de encontrar em seu caminho ventos traiçoeiros que o levaram ao Pantanal, onde ficou perdido por uns tempos.
Zília, sua Brasília amarela, era seu maior xodó. A esposa dona Dalva até comentava com uma pontinha de ciúme: "Gosta mais da Zília do que de mim!"
O casamento com Dalva foi duradouro. Nas seis décadas que passaram juntos, Dediel fazia de tudo para agradar a esposa. Ele amava dançar, dançava com os netos e era um bisavô daqueles babões ao extremo. Dizia com frequência algo como "Não se deve tentar fazer mais do que se pode, não coloque o pé onde não alcança".
"Foi sempre muito correto, com muitos princípios e o melhor conselheiro que existiu", afirma a filha. "Que ele agora encontre apenas bons ventos e que tenha ajustado suas velas rumo à luz da eternidade."
A esposa e companheira de vida também foi uma das vítimas da Covid-19; você pode conhecer um pouco da história dela acessando a homenagem para Dalva Alves da Silva.
Dediel nasceu em Corumbá (MS) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pela filha de Dediel, Sonia Regina Alves da Silva. Este tributo foi apurado por Raíssa Trelha, editado por Lígia Franzin, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 4 de novembro de 2021.