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Delcide de Oliveira Tripolli

1956 - 2021

A misteriosa Coelhinha que encantou o aniversário da filha.

Delcide, ou “De”, como foi conhecida carinhosamente por todos. Seu nome foi em homenagem a sua avó materna, Delcides, mas como foi registrado errado no Cartório, Delcide não gostava do nome, mas não perdia a oportunidade de brincar com isso.

“Essa leveza também se repetia na ‘mãe De’. Se desdobrava em mil, não para realizar os nossos caprichos, mas para nos apoiar em qualquer momento. Nunca transferiu os sonhos dela para nós. Queria que andássemos com as nossas próprias pernas. Se caíssemos, estaria ali para nos reerguer”, conta sua filha Fernanda.

“Não muito diferente foi com os amigos. Foi aquela pessoa em que todo mundo confiava para resolver problemas, papear no telefone ou beber no fim de semana. Eram tantos amigos conquistados, porque em cada lugar por onde passou, fez e os levou depois para a vida”, relata Fernanda.

Do seu amor e casamento com Jorge tiveram duas filhas: Fernanda, a primogênita, e a Rafaela. Em 1998 ficou viúva e criou suas filhas sozinhas com muito amor, dedicação e diversão.

Saudosa, a filha recorda: “Nunca pisou em um curso de culinária e nem aprendeu em casa, mas fazia os melhores bolos e salgadinhos do mundo. Não era uma profissão, mas sempre recorria a culinária quando a grana apertava ou queria agradar algum parente em batizado, comunhão ou aniversário. Em uma época também passou a se fantasiar de personagens para animar as crianças — tipo serviço completo de festa.”

“Estava tão feliz com o primeiro neto, Matheus, filho da Rafaela. Nos dias em que estava no hospital doente do COVID, ele aprendeu a engatinhar. Quando teve a chance de fazer a última chamada de vídeo, antes da intubação, pediu para vê-lo e espero que tenha dormido com essa imagem na cabeça e no coração”, conta a filha.

Uma história marcante que a filha rememora: “Quando minha mãe se vestiu de coelha para o aniversário da minha irmã Rafaela e estava próximo a páscoa. A Rafaela passou a festa inteira sem perceber que era a minha mãe, só falava toda hora "eu preciso te apresentar para minha mãe, mas não sei onde ela está". “Depois que cantamos os parabéns, a minha mãe voltou sem a fantasia. A Rafaela ficou anos sem saber quem era a coelha”. Fernanda acrescenta: “Minha mãe alimentou muito essa fantasia da Rafaela — não queria quebrar a lembrança boa que tinha da festa”.

A filha, saudosamente, relembra: “A minha vó, Zulmira, morreu no início do ano passado, já nos primeiros dias da pandemia, mas não foi de COVID. De 2016 a 2020, a minha mãe se dedicou muito a minha avó, pois ela tinha demência senil. Então, elas estavam sempre juntas em todos os lugares — enquanto a minha vó conseguia andar e interagir com os outros — foram a muitos shows. Quando minha vó partiu, minha mãe disse que agora seria a vez dela se dedicar a si mesma, mas os mistérios da vida pregam essas peças na gente e ela não pôde usufruir disso”.

Delcide foi exemplo de amor e respeito. A dedicação à família foi a maior lição que ela deixou.

Delcide nasceu em Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Rio de Janeiro (RJ), aos 65 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Delcide, Fernanda Tripolli. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Thalita Ferreira Campos, revisado por Walker e moderado por Rayane Urani em 11 de julho de 2021.