1932 - 2020
Exemplo de coragem para enfrentar a vida e de amor sem medida por sua família.
"Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas", essa era a minha avó, uma grega "arretada" que fugiu de casa aos 16 anos para se casar com meu avô e, aos 21, sem falar uma palavra em português, desembarcou em terras tupiniquins, com uma filha a tiracolo.
Já em terras brasileiras, teve mais um filho, encheu-se de coragem e se divorciou — o que não era nada fácil naquela época.
Cuidou muito bem dos dois filhos, teve vários empregos... se virou como pôde. O ex-marido retornou à Grécia, mas ela jamais saiu do Brasil. Dizia que o lugar dela era junto à família. Sofreu muito quando sua filha faleceu, precocemente, aos 38 anos, de câncer. Mas esteve ao lado dela o tempo todo.
Aos poucos, foi retomando sua vida. Sempre de bom humor, com um sorriso estampado no rosto, cozinhando e ouvindo músicas gregas. "Ela era o porto seguro da família, nos reuníamos sempre à sua volta. Era conhecida por todos como "yiayiá", que significa 'vovó' em grego", conta a neta Alberta. Foi avó de muitos.
Yiayiá abandonou o centro de São Paulo, que ela tanto amava, em especial o Largo do Arouche, para morar na Granja Viana e poder ficar perto dos seus dois bisnetos. Sofreu um AVC, mas se recuperou totalmente. "Tinha uma saúde de ferro", diz a neta.
Durante sua vida, sua única preocupação foi a família, que estava sempre em primeiro lugar. Era uma mulher muito bonita e vaidosa, que virava uma leoa para proteger e cuidar dos seus.
"Está fazendo uma falta enorme em nossas vidas... Deixou um vazio gigantesco. Apenas um vírus implacável como esse poderia derrubá-la... Foi inspiração pura para nós! Um exemplo de como enfrentar a vida, sempre com amor e um sorriso. O sorriso que hoje deixa muita saudade", finaliza Alberta que viveu muitas e muitas histórias com a sua yiayiá e que tem certeza que foi o imenso amor de Despina por ela e dela pela avó que a fez sentir-se tão especial por toda sua vida.
Despina nasceu em Atenas (Grécia) e faleceu em São Paulo (SP), aos 87 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela neta de Despina, Alberta Gambuzzi. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Lícia Zanol e moderado por Rayane Urani em 10 de novembro de 2020.