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Deuzarina Nunes Pinho

1939 - 2021

Amava comprar sapatos, só que às vezes, ao chegar em casa, acabava não gostando do par e o doava para alguém.

Deuzarina era apaixonada por saltos ornamentais e, desde sua infância até a adolescência, praticava o esporte em um clube da cidade de Macapá. Paralelamente ao interesse pelos saltos, Deuzarina também nutria o amor pela costura, ofício que aprendeu com a mãe. Era uma verdadeira estilista que, com delicadeza e maestria, era capaz de produzir roupas de beleza impecável, sendo responsável até mesmo pela confecção de vestidos de noiva.

Em Belém do Pará, Deuzarina foi desenhar uma nova história. Junto com o marido, Augusto, ela cuidou dos seis filhos - Nilce, Noélia, Paulo, Nilton, Nilson e Vitória –, com muito amor e sabedoria.

Seu cuidado e dedicação se estendiam para a igreja católica, onde sempre serviu como ministra da Eucaristia e participava da pastoral dos enfermos. Deuzarina levava a eucaristia para as pessoas em seus leitos, trazendo um pouco de conforto e esperança para elas. Não é à toa que sua característica mais marcante fosse sua capacidade de transmitir amor e paz.

Ouvir louvores e assistir à missa eram algumas das suas maiores alegrias e ela estava a todo momento convidando as pessoas para compartilharem esse tempo juntos.

Entretanto, se o assunto fosse cozinhar, Deuzarina não se empolgava tanto; preferia bolo, biscoito, café e guloseimas. Se alguém oferecesse um doce, ela aceitava sem hesitar e sem esquecer da Betina, sua cachorra, com quem dividia os lanches.

Embora não fosse uma pessoa apegada a bens materiais tinha uma paixão inexplicável por adquirir novos calçados que, vez ou outra acabavam indo agasalhar outros pés, porque ela olhava para eles quando chegava em casa e não os apreciava.

Quando Augusto se foi, a filha Nilce, o genro e a neta Simone foram morar com Deuzarina em sua casa e se tornaram inseparáveis.

Como o marido de Nilce era paulista, em 2003, Deuzarina se mudou para Batatais junto com eles, Simone e Vitória, mas permaneceu visitando o restante da família em Belém do Pará sempre que tinha oportunidade.

Com a idade, Deuzarina passou a apresentar sintomas de Parkinson, mas felizmente conseguiu receber tratamento gratuito e sessões de fisioterapia em Batatais. Também foi diagnosticada com Alzeimer, porém manteve-se lúcida até o final da vida.

Em todos os momentos a avó e a neta Simone estiveram unidas e criaram um laço de amor inigualável. Não importava a hora, se Deuzarina estivesse agitada, Simone ia encontrá-la para conversarem e ajudar a idosa a acalmar o coração.

Deuzarina foi um exemplo de pessoa que amou Deus e seguiu seus ensinamentos, levando amor para todos. Sua família e pessoas queridas irão lembrar eternamente de sua fala baixinha e de sua luz grandiosa.

Deuzarina nasceu em Macapá (AP) e faleceu em Batatais (SP), aos 81 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Deuzarina, Simone Carvalho Kosa. Este tributo foi apurado por Rayane Urani, editado por Camilla Campos Trovatti, revisado por Ana Macarini e moderado por Rayane Urani em 27 de maio de 2021.