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Diomedia Oliveira dos Santos

1937 - 2020

Guerreira, tinha orgulho de sua negritude. Adorava praticar yoga, dançar e fazer artesanato.

Diomedia passou a infância na Bahia, foi criada na roça, com muita simplicidade, mas também com muita alegria. Mais velha, mudou-se para São Paulo para tentar uma vida melhor, e conseguiu prosperar.
Guerreira, ficou viúva cedo. Criou e educou seus filhos com dignidade e honestidade. Seu sorriso era largo. E hoje, em sua ausência, os dias se tornaram mais cinzentos.

Conhecida como “Roxa”, tinha o dom de compreender a todos. Tinha sempre uma palavra amiga e fraterna para oferecer a quem necessitasse. Era adorada pelos seus vizinhos, a verdadeira “mãezona” da rua inteira.

Adorava estar com a comadre e amiga, Marli, que mora na Bahia. Foi visitá-la em 2018, onde passou um mês de muitas alegrias. A conexão entre ambas era muito forte, tinha noites que quase passavam em claro conversando e fazendo artesanato. Bordavam, pintavam, faziam patchwork.

Em um almoço, Marli tinha colocado um bolo na mesa, juntamente as panelas. Distraída, Dona Roxa colocou um pedaço de bolo no prato também, e pronto: foi receita certa para muitas gargalhadas. Sempre se lembravam dessa história, e riam como se tivesse acontecido naquele momento.
Antes de ir para casa, escreveu uma carta linda para Marli, logo após o jantar de despedida. As conversas telefônicas eram semanais, extrapolando as duas horas de ligação.

Na última conversa que tiveram, Diomedia exprimiu algumas de suas palavras de tranquilidade e sabedoria: “Minha comadre, a morte não nos separa, ela nos une”. Palavras que ficarão para sempre guardadas no coração.

Era muito bem cuidada pelos filhos, dedicava ao artesanato e se divertia assistindo televisão. Trabalhou muito a vida toda, e quando envelheceu, soube aproveitar os lazeres da vida.

Frequentemente, nas reuniões de família, dançava ao lado dos netos, mostrando para todos a menina brincalhona e animada que guardava dentro de si.

Continua viva através dos que puderam partilhar de seus dias, da sua simplicidade. Sua beleza vinha de dentro, possuía a incrível capacidade de despertar o melhor no coração daqueles que amava. Nas palavras da comadre, os momentos que viveram juntas estarão guardados como um tesouro.

Diomedia nasceu em Uruçuca (BA) e faleceu em São Paulo (SP), aos 83 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela comadre de Diomedia, Marli Lima Silva. Este texto foi apurado e escrito por Ygor Expedito Gonçalves, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 9 de agosto de 2020.