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Dionita Maria Diogo

1932 - 2020

Benzedeira negra de olhos de esmeralda, enfrentou com coragem e doçura a insensibilidade de uma sociedade racista.

Dionita foi uma mulher de fibra que enxergou a vida com a clareza dos seus chamativos olhos verdes e a doçura das canções que cantarolava ao lavar as roupas à mão porque, segundo ela, “As máquinas estragariam as roupas que a custo caro tinham sido adquiridas!”

Mulher, negra e pobre, lutou por si e por sua família com a força de uma leoa que “nunca permitiu se abater pelas maldades de uma sociedade doente e cruel”.

Casou-se cedo e ficou viúva ainda jovem, mas isso não lhe impediu de criar seus quatro filhos com garra e sem nunca perder a esperança no amanhã. Assim, quando aos 76 anos sofreu um derrame, não sucumbiu sustentada por sua coragem e sua fé.

Benzedeira como poucas que conhecemos ou conheceremos, não se importava com a carga que trazia para si ao aliviar as dores e as emoções das pessoas. Nunca reclamava de seu dom, somente usava sua capacidade de compreender e tocava a vida de forma a resolver os problemas.

Devota de Nossa Senhora Aparecida, com o passar do tempo se esqueceu de muitas coisas, mas nunca de como se rezava o terço. Aliás, esse hábito era praticado todo santo dia e sempre com as mesmas intenções: a família, filhos, noras, genros e, claro, os amados netos.

Dionita completou o ciclo de sua vida vivendo e desfrutando de quatro diferentes fases: foi criança, tornou-se adulta, chegou à melhor idade e novamente voltou à infância.

Nesta segunda infância foi para junto dos seus, reuniu-se com seus ancestrais que já a aguardavam em festa no céu. Fica a saudade da doçura e da luz que seus olhos verdes irradiavam.

Dionita nasceu em Ouro Preto (MG) e faleceu em Suzano (SP), aos 88 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pelo neto de Dionita, Rodrigo dos Santos Diogo. Este tributo foi apurado por , editado por Vera Dias, revisado por Ana Macarini e moderado por Ana Macarini em 4 de abril de 2021.