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Dirce Novaes de Souza

1936 - 2020

Ela não gostava de lágrimas. Sempre desejava a alegria de um dia de sol e um céu azul, como seus olhos.

Ela amava receber os netos em casa. Por mais séria e calada que fosse, seu afeto transparecia em seus gestos, em seus olhos azuis e nas comidinhas que preparava — e que temperava com amor, porque eram feitas sempre na intenção de alguém. Como o pudim de leite condensado e o frango com molho, as preferidas da neta Danielle, que a vó Dirce não poupava esforços para agradar.

Dirce sempre foi uma pessoa fechada, mas compartilhava um grande carinho e amizade com sua irmã mais nova, e foi assim por toda uma vida. As duas moravam no interior de São Paulo, em Colina, e jamais se desgrudaram. Mesmo depois de casadas estavam sempre juntas e assim permaneceram depois que ficaram viúvas.

Dirce e o marido sempre foram muito parceiros e a partida dele deixou um grande vazio em sua vida. Ela sempre dizia que depois de sua morte tudo tinha perdido um pouco o sentido. Tiveram dois filhos: o pai da Danielle e o Marcos. Com o Marcos, a Dirce tinha uma relação muito próxima, eram muito chegados, um cuidava do outro; até que, em 2015, ele também partiu e os olhos azuis da Dirce nunca mais brilharam com a mesma intensidade.

Mas, além do amor pela família, a Dirce era apaixonada por seu trabalho: dava expediente em dois hospitais. Mesmo assim, com muito sacrifício e o auxílio da nora com as aulas de matemática — e aos 50 anos — Dirce conquistou seu diploma em Administração Hospitalar. Quanto orgulho! Foram quarenta e sete anos de entrega e dedicação ao trabalho até se aposentar.

Durante sua vida laboral, com os dois empregos e a faculdade, Dirce não tinha tempo para se divertir; mas nunca dispensava um almoço em família, que fazia questão de preparar. Era o momento de se reunir com os seus, jogar conversa fora, dar risadas e viver a vida.

Dirce deixa filho, irmã, netos, nora, amigos e deixa saudade. E para ela sua neta Danielle diz: "Sempre te amaremos minha avó amada e guerreira".

Dirce nasceu em Colina (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 84 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela neta de Dirce, Danielle Montiel de Souza. Este tributo foi apurado por Ana Helena Alves Franco, editado por Rosa Osana, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 11 de dezembro de 2021.