Domingas Maria Maciel

1942 - 2020

Amor era o principal ingrediente dos temperos que criava. Fazia de cada prato uma declaração de afeto.

Na casa de Dona Domingas, datas festivas eram ideais para tentar juntar toda a sua grande família: o marido, os nove filhos e respectivos cônjuges, os 23 netos e os 14 bisnetos, sem contar os bisnetinhos que estavam nas barrigas.

As mãos grossas de quem trabalhou na roça eram perfeitas para fazer comidas deliciosas que tinham na neta Eliza uma apreciadora fiel. "Gostava muito de comer a comida dela. Arroz, feijão e bife com batata frita! Era uma delícia", conta ela. "Ela fazia um tempero de alho que fazia milagres em qualquer prato..."

Essa "mineirinha da roça", como diz a neta Eliza, era famosa pelo biscoito frito na gordura e pelo café com bolo. "Ahhh....esse café. Não era apenas uma infusão de água, café moído e açúcar, era muito mais. Era uma tradução de amor e hospitalidade, que tanto ela transmitia em sua cozinha."

Dona Domingas quase sempre foi dona de casa. Na infância, lá em Mamonas, no norte de Minas Gerais, tocava gado e cuidava da produção de queijo. Ao se casar muito nova, em uma celebração dupla, porque sua irmã também casou no mesmo dia, passou a se dedicar aos cuidados dos filhos que logo vieram. "Mesmo sem saber ler e escrever, ela aprendeu na faculdade da vida administrar as contas, despesas e pagamentos da casa", conta Eliza.

Quando ela e o marido estavam com sete filhos, decidiram tentar melhorar a condição de vida. Atravessaram os Estados de Minas e São Paulo, chegando à capital paulista, onde decidiram se estabelecer.

Dona Domingas era carinhosamente chamada de Minga pela família e pelos amigos. E as amizades não lhe faltavam. "Tinha muitas amigas no bairro em que morava e era muito conhecida na feira de rua livre, que acontece próximo à casa dela. Todos os comerciantes sabiam quem era a Dona Minga." Boa administradora que era, sempre fazia sobrar um trocadinho para presentear os familiares, amigos e vizinhos nos aniversários. "Ela não esquecia a data de aniversário de ninguém."

Dentre os momentos mais especiais que Eliza guarda de sua relação com Dona Minga está a festa de aniversário de casamento dos avós. "Junto com meus primos e tios, planejamos uma grande festa de cinquenta anos de casados dos meus avós. Ela estava muito feliz naquele dia. Vaidosa como só ela, estava toda arrumada para as bodas de ouro."

Com muita simplicidade, Dona Minga, que era uma mulher de fé, católica e devota de Nossa Senhora Aparecida, ensinou para seus filhos, netos e bisnetos a serem amorosos e a expressarem esse amor por meio de atos de bondade, fosse o preparo de uma refeição gostosa, fosse um "parabéns" caloroso no dia do aniversário.