1962 - 2020
Uma pessoa que levava alegria por onde passava com seu coração bondoso e humilde.
Domingos era um verdureiro analfabeto, mas suas filhas Paula e Carla garantem: "seu conhecimento de mundo era maior que o de um professor formado. Ele tinha muita sabedoria".
Ele ajudava as pessoas, era muito bem-visto e não havia quem não gostasse dele. Aos sábados pela manhã, os moradores do distrito de Feiticeiro, onde Domingos morava, aguardavam pelo grito mais esperado, que vinha dele ao vender suas verduras: "Olha o cheiro-verde! Tá se acabando o cheiro-verde!"
A filha mais velha, Carla, conta que chamava o pai de "meu véi" e que, junto da mãe e da irmã, formavam uma família pequena, em que a base, o alicerce era Domingos. As duas filhas dele são casadas e Paula já havia dado ao pai o orgulho de ser chamado de avô por Anna Clara e Domingos Neto.
O nome do distrito onde Domingos viveu por toda a vida surgiu a partir do riacho de mesmo nome, localizado na região. Em tempos de seca, o riacho de Feiticeiro (também chamado de Jatubarana) permanecia com água e cercado por uma área verde, levando os moradores a afirmarem que o riacho possuía "feitiço". Parece que sim, pois Domingos era enfeitiçado pela localidade onde tinha sua quitanda com um ambiente feliz e maravilhoso. Ele soube cultivar o melhor desse lugar com seu enorme coração e sua simpatia inigualável.
"Na cidade onde ele nasceu, cresceu e se estabilizou; mesmo com poucos conhecimentos, nos criou e ensinou o primordial da vida: 'nunca queira nada de ninguém, e seja grato pelo que tem. Pouco ou muito, seja grato'. Ele ainda brincava, dizendo que eu e minha irmã só queríamos ser ricas, mas nós sempre respondíamos: 'Já somos ricas! Nós temos o senhor'. Falar do meu pai não é difícil, difícil é conter as minhas lágrimas", diz Carla.
Ele foi pai, avô, marido e genro muito amado, sobretudo por sua simplicidade e por ser para todos um "amigão". "Nunca o vi desrespeitar minha mãe", afirma Paula. E a filha ainda diz: "Eu poderia passar o dia escrevendo como o 'Domingão do Frutão', como ele era conhecido, era maravilhoso. Um homem que passava horas contando suas histórias e dando muitas risadas com seus amigos".
No pequeno distrito, onde, em sinal de respeito, as portas foram fechadas durante a breve despedida a Domingos, muitos ainda dizem ouvir "Olha o cheiro-verde! Tá se acabando..." Talvez seja um sinal de que sua passagem por aqui ficou marcada para todos em Feiticeiro.
Após sua partida, a quitanda de Domingos mudou de nome, agora, como forma de homenagem, é chamada por todos de Quitanda Frutão do Domingão.
Para a família, ainda parece que Domingos apenas partiu em uma viagem e que logo irá retornar, pois as lembranças de tudo que ele ainda representa são fortes e marcantes para os seus. Ele sempre será lembrado e estará dentro dos corações da família Amorim.
Domingos nasceu em Jaguaribe (CE) e faleceu em Quixeramobim (CE), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelas filhas de Domingos, Paula Cristiane de Amorim Silva e Carla Patrícia de Amorim. Este texto foi apurado e escrito por Lígia Franzin, revisado por Mateus Teixeira e moderado por Rayane Urani em 4 de dezembro de 2020.