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Dora Ramos dos Santos

1949 - 2020

Animada e festeira, curtia a vida como um presente que era renovado a cada dia.

Dora nasceu no interior de Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce, onde passou a infância. Aos 17 anos se casou com João Batista Gomes. Já em Belo Horizonte, enquanto criavam os seis filhos - Paulo (já falecido), Luiz, Márcia, Ronaldo, Ronilda e Rogério –, construíram uma vida juntos, dedicada ao trabalho, e assim as condições foram melhorando.

Grande parte das conquistas da família só foram possíveis graças à determinação dela. Era generosa também com os irmãos na época em que ainda se firmavam profissionalmente, deixando a casa sempre de portas abertas para todos, alegremente preenchida por uma grande família.

O marido João trabalhava na implementação de cisternas para captação de água na construção civil. E ela, desde sempre muito ativa, ajudava manuseando a pólvora para as bananas de dinamite usadas na montagem dos tubulões estruturais. Não era um trabalho leve. Com o tempo, seu nariz ficou mais fino, uma sequela do contato com a pólvora.

Depois de quarenta anos de união, o casamento terminou, a contragosto dela. Porém, os incidentes de percurso em nada limitaram a autoconfiança e a alegria que esbanjava. Separada do ex-marido, seguiu morando sozinha em sua casa no bairro Maria Helena e não deixava de ir a nenhum passeio, não perdia festas e mantinha uma convivência intensa com uma legião de bons amigos.

A afinidade e o vínculo eram grandes com a filha Ronilda e o genro Rodrigo. Fazia questão de estar com eles nas viagens e nos passeios que planejavam: ela fazia parte da galera; para o entusiasmo que habitava em seu espírito não havia idade. Tinha um pique danado, dançava muito nas festas. E era fã da dupla sertaneja Gino & Geno.

Adorava as praias da Bahia e de Cabo Frio. Comer bem também estava entre seus maiores prazeres. Comia de tudo, inclusive o não recomendado por seus médicos, se esbaldando com um bom churrasco e os imbatíveis doces mineiros... E assim foi driblando a diabetes.

Não tinha apego ao que ganhava de presente; se outra pessoa pedia, ela dava. Mudava a mobília da casa de lugar toda semana, revirava tudo. Comprava um móvel e seis meses depois já se desfazia e comprava um outro modelo, sem deixar de pagar as prestações em dia.

Mulher de muita sabedoria, porém sem rodeios para falar o que pensava. Perceptiva, intuitiva, ninguém conseguia enganá-la por muito tempo. Ia direto ao ponto, sem muita paciência com quem não andava na linha. Porém, muito amável, respeitosa e protetora com quem merecia.

Dora nasceu em Caratinga (MG) e faleceu em Serra (ES), aos 70 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo genro de Dora, Rodrigo Batista Baia. Este texto foi apurado e escrito por jornalista Bettina Turner, revisado por Acácia Montagnolli e moderado por Rayane Urani em 26 de abril de 2021.