1970 - 2021
Sentia-se realizada por apresentar um novo mundo, com letras e números, aos seus pequenos alunos.
Para todos que a conheciam, Dulcilene era sinônimo de fortaleza. Com seu pulso firme, sua natureza batalhadora e alma guerreira, batalhava cotidianamente ao lado do marido para que todos os sonhos de sua família se realizassem. Encarava de frente todas as dificuldades, como se estivesse sempre pronta para o que der e viesse.
Na juventude, foi apresentada a Oldemar, popularmente conhecido como Mazin, por um amigo em comum. Logo, se encantaram um pelo outro, namoraram e, por trinta e um anos de suas vidas, viveram o mais puro amor: a relação dos dois era tão preciosa que ainda se entreolhavam com o mesmo fascínio de quando se conheceram. Dulcilene, que constantemente se referia ao marido como Ma, o amava com toda a sua força. Ele, por sua vez, a retribuía com a mesma intensidade e querer.
O casal era muito admirado pelo modo como se dedicavam à união conjugal, cujas bases eram: o companheirismo, o cuidado e o respeito mútuo. Nas diferenças, se complementavam: ela, muitas vezes, dominada por seu ímpeto, encontrava no amado, a calmaria para lidar com as mais variadas situações.
Do amor entre os dois, vieram quatro filhos: Isaiana, Isaielly, Igor e Isadora. Protetora como uma leoa, ela gostava de ter os filhos habitualmente por perto, fazendo o impossível para vê-los completamente felizes e realizados. Com eles já crescidos, ansiava pelo momento em que teria netos para acalentá-los entre seus braços. Seu outro grande sonho era visitar a filha Isaielly, que mora nos Estados Unidos.
Encontrou o seu propósito como Professora de Alfabetização, onde letras se transformavam em sílabas, frases e textos. Números se transformavam em somas, subtrações, multiplicações e divisões. Desde os planos de aula, preparados com todo o carinho, até o cuidado com o aprendizado e bem-estar de cada aluno, como se fossem seus filhos. O afeto repassado à eles era tão genuíno, que alguns mesmo depois de tantos anos, ordinariamente se recordavam dela.
Aos domingos, cozinhava caprichosamente o almoço em que reunia toda a família, com direito ao preparo de uma suculenta galinha caipira, sua especialidade na cozinha. Os familiares estupefatos pelo sabor da iguaria, logo diziam que ninguém preparava aquele prato como ela. Nos seus momentos livres, dedicava-se com afinco aos cuidados com seus pomares de laranjas e limões também com a sua horta de verduras, no sítio onde vivia.
No ano de dois mil e dezessete, ela começou a realizar hemodiálise devido à perda de suas funções renais. Em meio às intempéries, inquietações e lágrimas, que surgiram pelo caminho, nunca sucumbiu. Do seu âmago, existia uma força incólume que a mantinha interminavelmente de pé e confiante para a próxima batalha. "Durante o tratamento, houve a possibilidade de que eu doasse um rim para minha mãe. Por quase um ano, fizemos diversos procedimentos para que o transplante fosse concretizado, mas infelizmente não deu certo. Desde que ela adoeceu, eu me dediquei com toda a minha alma. Neste período, nossos laços se estreitaram ainda mais e além da mãe mais amorosa, ganhei uma melhor amiga e confidente. O amor que tivemos intensamente uma pela outra, se quadruplicou", recorda a filha Isaiana.
Depois de três longos anos de espera, entre idas e vindas de Poté a Belo Horizonte, a família recebeu a notícia mais aguardada por eles: havia um rim compatível que estava pronto para ser doado à Dulcilene. Logo após o transplante, ainda se recuperando no hospital, infortunadamente, se contaminou por Covid-19. Durante um mês, a família se uniu em um só coração, tendo como único desejo a volta dela para a casa, trazendo consigo a força e o amor que foram o alicerce de seu lar. "Minha mãe tinha os sentimentos mais nobres dentro de si e uma fé inabalável em Deus. Logo, tenho a certeza de que com um coração tão puro, Ele a quis ao seu lado. Nosso amor será guardado por toda a nossa existência até nos reencontrarmos na eternidade", diz a filha.
A vivacidade com que Dulcilene se dedicou a tudo e a todos, se faz presente nas lembranças orgulhosas e honradas de todos os seus amores. Ela que nunca se entregou aos percalços impostos pela vida, deixou-se entregar à vontade para quem ela mais amava, tornando-se a recordação mais bonita e saudosa de quem com ela teve o privilégio de conviver.
Dulcilene nasceu em Poté (MG) e faleceu em Belo Horizonte (MG), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo marido e pelos filhos de Dulcilene, Oldemar Rodrigues, Isaiana Froeder, Isaielly Froeder, Igor Froeder e Isadora Froeder. Este tributo foi apurado por Andressa Vieira, editado por Andressa Vieira, revisado por Magaly Alves da Silva Martins e moderado por Rayane Urani em 11 de fevereiro de 2022.