1956 - 2020
Dona Fia distribuía não só comida e cuidados, mas também amor ao próximo em cada prato, salgadinho e doce.
Casada há mais de quarenta anos com o sortudo do Seu Joel, criou os quatro filhos com muito amor, carinho e proteção. Mas Joelma, Antonio, Daniel e Olivia também levaram umas boas surras. Daniel admite que às vezes era necessário.
Mulher de fibra, Dona Fia, como era conhecida, batalhou muito para formar os filhos. O amoroso filho Daniel a descreve em detalhes e carinho suavemente equilibrados: "Minha mãe era turrona como um leão, mas com o maior coração que já conheci nesse mundo. Adorava cuidar de tudo e todos. Não só criou os filhos, como ajudou na criação de alguns netos e até dos bisnetos."
Qualquer hora que chegassem em sua casa, o primeiro pensamento de Dona Fia era de agradar com alguma coisa. Sempre vinha com qualquer espécie de mimos: de presentes a muita comida boa.
Cozinheira de mão-cheia, adorava se aventurar. Todos os aniversários, casamentos e festinhas familiares ficavam por sua conta. Fazia dos salgados aos doces. E Tia Fia fazia tanta questão de preparar tudo, com suas mãos maravilhosas e tanto amor que, certas vezes, chegava a perder a própria festa.
Daniel conta que sua mãe ficou conhecida pelas guloseimas que preparava, mas acima de tudo por sua bondade. "Minha mãe era dona de um coração que desafiava as fórmulas básicas da matemática. Pensem em um coração bom... multipliquem... pois é, o dela era assim, não cabia no peito! Se importava e gostava de pessoas."
Fazia parte de sua rotina abrir as portas de casa para oferecer comida aos motoristas de ônibus do bairro. Sua casa era bem próxima ao ponto final de umas linhas de ônibus e ela fazia questão de distribuir amor entre pratos, talheres e copos. Às vezes, brincava que por isso, os motoristas quando a viam na rua, davam carona e ela nem precisava pagar passagem. Eita comida boa!
Dona Fia conhecia todo mundo, conta o filho. Ele achava incrível andar ao seu lado, pois segundo suas próprias palavras: "ficávamos todos pasmos de ver como ela possuía tantos conhecidos! Nem imaginávamos, mas ela cumprimentava quase todos que passavam pelo caminho. E não raro, pelo nome!"
Em determinado tempo da vida, seu esposo ficou desempregado. A necessidade, combinada à eterna vontade de cuidar do próximo, levou-a a cuidar de idosos. Trabalhou por cerca de oito anos com uma mesma família. Extremamente zelosa nessa função, sofria junto com a dor do outro. Vendo no filho Daniel um apoio, por ser da área médica, ele conta: "ela me ligava o dia inteiro, tirando dúvidas para que seus cuidados fossem os melhores possíveis. Isso tornou-se um aprendizado para mim. Eu, como enfermeiro de formação, inspirava-me cada dia mais nesse amor e solidariedade da minha querida mãe."
Dona Fia foi uma gordinha teimosa... até brigona às vezes. Brigava pelos seus e, sobretudo, com os seus. Mas eram ensinamentos, hoje seus legados: sempre exigindo dignidade, respeito ao próximo e lealdade.
Mas tinha um lado sentimental também... chorava com qualquer coisa: propagandas, novelas. Com as coisas tocantes do dia a dia então, nem se fala.
Finalizando essa homenagem, Daniel transborda sua emoção dizendo que sabia que não seria fácil, mas não imaginava que seria tão difícil. E completa a despedida, com lindas palavras: "Quando fecho meus olhos para buscar as lembranças, só tenho coisas lindas em mente, pois minha mãe era isso: linda por dentro e por fora. As lembranças vêm com um aperto no coração de muita saudade e um amor imenso. Só o tempo para amenizar o nó na garganta. Assim como ela, também choro muito, mas de amor e muita saudade.
Hoje, minha mãezinha está descansando no Senhor e eu oro todos os dias para poder vê-la novamente quando for a hora. Poder amar, abraçar e beijá-la mais. Um dia, ainda quero me lembrar da senhora sem chorar, mas por enquanto não consigo. Diariamente, algo que faço, traz sempre a lembrança dela. Isso me faz compreender que a vida só teve e tem sentido graças a essa mulher incrível! Te amo pra sempre, minha inspiração!"
Dulcinete nasceu em Santa Tereza (ES) e faleceu em Vitória (ES), aos 64 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Dulcinete, Daniel Perinni de Souza. Este tributo foi apurado por Lígia Franzin, editado por Denise Pereira, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 25 de outubro de 2020.