1952 - 2020
Chegavam com um problema para Edgar e saíam com uma solução, sempre. Um de seus dons era ajudar.
Esta é uma carta aberta de Vera para o irmão de Edgar.
Faz algum tempo que partiste, porém, é um breve intervalo. Quando vieram dizer que já não estavas mais entre nós, o único pensamento que veio à cabeça foi a nossa mãe e você criança ainda, nossa infância, muitas lembranças afloraram em mim, nós éramos quatro irmãos e hoje somos eu e o Beto, o nosso caçulinha. Eu penso que o céu está em festa, você chegou lá, ao lado dos três que nos precederam.
Foste levado quando havia sentido uma alegria imensa por conta do novo rim a pouco transplantado e de repente, vem lá esse vírus desconhecido e interfere na boa evolução do processo de transplante. O mundo aqui está numa revolução tremenda contra algo que nem mesmo sabemos como lidar, a medicina peleja, luta, mas tem sido em vão, algumas batalhas ganhas, muitas perdidas e outras em recuperação, esperança de restabelecimentos da saúde para muitos.
Sobre esse episódio da terra vou falar outra hora, eu quero aqui é falar sobre você! Um irmão do meio, ímpar, alegre e às vezes de pouco falar, de muitas monossílabas para responder, mas de um coração gigante e aberto, acolhedor e sem medir esforços para com qualquer pessoa que necessitava de um ombro amigo, tenho a certeza que um número grande de pessoas sabem que realmente foi assim, muito compenetrado em tudo que fazia, organizado e previdente.
Na vida profissional foi cuidadoso, fiel, ético e um trabalhador que angariou muitos amigos que permaneceram fiéis e leais ao longo da sua trajetória. Deus concedeu a você uma companheira também trabalhadora e que auxiliou em todos os aspectos. Juntos, compartilharam 45 anos de convivência conjugal, um marco para poucos em tempos atuais, quase não se vê isso. Outra observação é que nossa mãe também ensinou-nos a ser irmãos unidos e que auxiliasse uns aos outros. Até nisso fostes digno e cumpridor, um irmão exemplo, muito amado. Eu e o Beto temos um imenso orgulho de você, nosso "querido gordo", nosso "JR" e meu "Udo".
Quando era pequena te chamava de Udo porque não sabia falar júnior ainda, o Luiz Henrique era o meu "Ique" e o nosso Beto o "Tuta" e nós três como os mais velhos sempre procurávamos protegê-lo e mimá-lo, assim foi nossa infância. Eu amo muito a minha família de origem, agradeço a Deus ter nascido nesta família e ter participado desses 67 anos 7 meses e 23 dias da sua vida, obrigado por ter sido meu irmão do meio, obrigado por tudo sempre.
Lembro-me das pessoas chegarem com um problema para você e saírem com uma solução, sempre. Um de seus dons era ajudar.
O Miguel, meu netinho, disse: "Não chora vovó, o tio está com o papai do céu, o tio é uma estrelinha, ele está bem agora, não chora vovó!" Uma criança de 6 anos consolando-me e dizendo que estavas bem, sinto que estás mesmo bem mesmo e logo logo a gente volta a se encontrar e a todos que estão com você agora.
Tenho muitas histórias para contar sobre as nossas peripécias infantis e juvenis, em outra oportunidade vou relembrar mais esses tempos felizes, às vezes fico a pensar neles porque os dias atuais estão sombrios, pesados e viajar em boas lembranças nos faz tirar suspiros saudosos, sorrisos que nos fortalecem e afastam das notícias difíceis desse tempo.
Tenho muito orgulho de todos, dos Freitas Cunha, dos éramos seis, amo muitíssimo todos vocês. Um carinhoso, afetuoso abraço e shalom.
Que a graça, amor e misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo conforte os corações da sua Luzia, do Luciano, da Elaine, do Rogério e da Jady.
Shalom.
Edgar nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela irmã de Edgar, Vera Lúcia de F C de Oliveira. Este texto foi apurado e escrito por Talita Camargos, revisado por Luana Bernardes Maciel e moderado por Rayane Urani em 16 de dezembro de 2020.