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Edil Marques Aguiar

1652 - 2020

Enfrentou a vida com coragem, venceu a morte muitas vezes. Um homem otimista.

Edil foi uma pessoa muito especial. Começou a trabalhar ainda criança, mas logo estaria com duas barracas, prosperando a olhos vistos.

Gostava de cerveja e churrasco. Volta e meia levava os amigos, filhos e sobrinhos para a churrascaria. Juntava todo mundo, era uma festa!

Nasceu dia 20 de janeiro, dia do padroeiro do Rio de Janeiro. E era um típico carioca. Flamenguista roxo. Era alguém que amava a vida, as pessoas.

Venceu a morte muitas vezes, encontrando a cura para graves doenças, escapando de acidentes de carro e até de caminhão.

Batalhador, começou a vida como camelô, nas feiras do Rio de Janeiro, com dez anos. No começo, vendia Ki-Suco, depois passou a vender sardinha, também como camelô. Logo comprou sua primeira barraca de peixe e começou a prosperar.

Nas feiras em que trabalhava, seja em Cordovil, Marechal Hermes, Santíssimo, Honório Gurgel, Ricardo de Albuquerque... todos conheciam o “Cabeça Branca”.

Foi o amor ao trabalho que, na Semana Santa, levou Edil a fazer o que mais gostava: trabalhar com peixe. Ele não acreditava que algo de ruim pudesse acontecer, era um otimista convicto.

Trabalhou muito e, uma semana depois, adoeceu.

Era uma pessoa tão especial, que nasceu no dia de São Sebastião e partiu no dia de Nossa Senhora de Fátima. “Abençoado por Deus e bonito por natureza”.

Construiu uma linda família ao lado da primeira esposa, com quem teve dois filhos, os quais lhe deram três netas. Depois de 20 anos, o casal decidiu se separar e continuaram sendo bons amigos. Edil casou-se uma segunda vez e teve outro filho homem — uma família de varões!

Essa família enorme e seus amigos, reuniram-se no último Natal e tiraram uma foto, que ficará eternizada, como registro do derradeiro Natal ao lado dele.

A prima Vera Lúcia, que tinha Edil como a um irmão. Conta que ele tinha os olhos azuis, por isso, quando eram crianças, ela brincava com ele, dizendo: “Olhos de gato, quarenta e quatro, pula janela, senão te mato”, as recordações vêm enquanto ela assiste a um vídeo no qual Edil relembra os tempos de menino, num carrinho de rolimã, descendo a ladeira até desaparecer de vista.

Ela imagina que foi assim que caminhou para a eternidade, sumindo no horizonte, em seu carrinho de menino...

Edil nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu no Rio de Janeiro (RJ), aos 67 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela prima de Edil, Verá Lucia Jader Pandini. Este tributo foi apurado por Hélida Matta, editado por Hélida Matta, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 12 de julho de 2020.