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Edilson Cordeiro Cecon

1972 - 2021

Afetuoso, acolhedor e disponível, foi padrinho dedicado de inúmeras crianças durante toda a vida.

Edilson teve alguns casamentos ao longo de sua vida e o último deles foi com Cristiane — uma relação que durou cerca de sete anos. Era pai de Emanuele, Emily e Sofia, frutos de seus casamentos anteriores, e mesmo separado da segunda esposa manteve-se presente na vida das filhas, mostrando-se sempre amoroso e trazendo-as para a convivência com Cristiane e com a filha caçula do atual casamento.

Padrinho Dilson, como era conhecido por seus vários afilhados, é homenageado pela afilhada Karem, neta de uma de suas ex-esposas, com a qual ele manteve a amizade dos filhos mesmo depois de separado. “Minha mãe o chamou para ser meu padrinho de batismo em casa e depois na igreja. Os meus tios seguiram a mesma ideia e também o chamaram, pois ele gostava muito de crianças”, conta ela.

“Meu pai biológico sempre foi ausente, mas tive a sorte de ter um padrasto maravilhoso, que ocupou esse papel: como padrinho, era um segundo pai. Ele era presente, brincalhão, conversava, tinha muita paciência em ouvir as crianças; fazia mingau de banana e chamava a gente para comer."

"Era um amigo disposto a ajudar, um pai presente e um padrinho querido até mesmo de quem ele nem tinha batizado, pois, como havia muita criança na família, algumas o chamavam de padrinho sem ele ser realmente. Como ele gostava de criança, não se importava.”

Seu gosto pela comida rendeu-lhe o apelido carinhoso de Gordo. Seus melhores momentos na vida eram comendo e jogando conversa fora, em meio a boas risadas. Nas horas vagas Edilson adorava ficar com a família, visitar os parentes, os amigos e também pescar. A família sempre tinha uma mesa de truco onde, nos dias de churrasco, os homens se reuniam — e ele sempre estava junto jogando e brigando.

Seu primeiro e único emprego de carteira assinada, por uns trinta anos, foi como encanador da Sanepar, empresa de abastecimento de água de Curitiba e região, tendo nela ingressado por indicação do próprio pai, que ali também trabalhava e de quem herdou o exemplo de dedicação.

Karem relata como certa vez o trabalho de Edilson facilitou uma reaproximação com a família: “Havíamos mudado de casa e naquela época o contato pelas redes sociais não era tão fácil como hoje. Fazia tempo que não encontrávamos o meu padrinho, pois desde que ele se separou da minha avó fomos para outro bairro, um pouco distante. Um belo dia, meu padrinho passou bem na frente da nossa casa e nos achou, por puro acaso: na rua ao lado fizeram uma chamada para a Sanepar, avisando que um cachorrinho estava preso em um bueiro havia alguns dias, e ele foi lá atender a ocorrência, que era próxima a nossa nova casa".

"Com o passar dos anos e com algumas mudanças na empresa, ele resolveu virar empreendedor. Montou uma empresa de entregas e, infelizmente, foi nessa atividade que se infectou. Contraiu a Covid-19 durante uma de suas entregas em Santa Catarina."

"Ele tinha uma preocupação enorme em fazer tudo dar certo porque, além de o veículo de trabalho estar financiado no nome do pai — e ele queria honrar sua dívida para com ele —, desejava muito contribuir nas despesas com o tratamento de câncer que o pai fazia."

Por ironia da vida, partiu antes de Seu Francisco que, no velório, ao despedir-se de Edilson com um "até breve", profetizou que não viveria muito tempo sem o filho, vindo a falecer apenas oito meses depois dele.

A afilhada se recorda de fatos marcantes com o padrinho: “Tenho uma foto em que estou no colo dele. Eu tinha uns 3 aninhos nessa foto, é de quando tive um acidente em que quase perdi a vida. Fiquei alguns meses debilitada e ele, com todo seu amor, me levava para o quintal para eu ver as outras crianças, já que eu estava em recuperação. A partir dali tive um laço muito forte com ele, que em alguns momentos foi como um segundo pai".

"Ele era uma pessoa alegre, de bem com a vida e sempre disposto a ajudar quem estivesse precisando. Antes de a minha mãe conhecer meu padrasto, que foi meu pai de criação, ela ficou um tempo sozinha criando os filhos sem a ajuda do meu pai. Aí meu padrinho fazia compra de alimentos e a ajudava arrumar emprego até ela poder nos sustentar”.

"Toda vez que faço mingau de banana com canela lembro dele, que era uma pessoa comilona. Isto porque da primeira vez que me ofereceu 'mingau com canela' eu, criança, pensei que era a canela da perna que estava no mingau! Ele então deu risada e me apresentou a canela em pó."

"Ele gostava de sertanejo, em especial do Trio Parada Dura, com a música 'Onde estão meus passos?'. Tinha o costume de passar na janela de casa para dar boa noite e tinha mania de imitar uma gata no cio.”

Falando de sonhos do padrinho, Karem conta que ele queria ter um caminhão ou algum outro veículo para ser seu próprio chefe. Finalizando, destaca os ensinamentos que dele recebeu:

“Ele me ensinou a ser uma pessoa de bem com a vida e que, às vezes, não é porque um relacionamento não dá certo com uma pessoa, que você vira inimigo. Ele manteve vínculo com a gente e com a minha avó, mesmo depois de separados. Apesar de todas as dificuldades nunca o vi de mau humor."

"Se como padrinho ele já demonstrava amor com as crianças, como pai não seria diferente: era presente e amoroso. Foi um padrinho amado, um segundo pai, que vai deixar saudade das suas piadas e histórias engraçadas. Descanse em paz, meu padrinho amado, e que isso seja um até breve", finaliza, amorosamente, Karem.

Edilson nasceu em Curitiba (PR) e faleceu em Curitiba (PR), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela afilhada de Edilson, Karem Cristina Lemos da Silva. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso e Andressa Vieira, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 16 de novembro de 2023.