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Edir Carvalho Bezerra

1965 - 2021

Era naturalmente engraçado, falava, gesticulava e soltava piadas como se fosse um personagem.

Ele era conhecido por ser uma pessoa de alegria imensa, por onde passava fazia alguém rir. Amava jogar conversa fora e conhecia o povo todo da cidade. Foi criado no Bairro do Telégrafo, onde, inclusive, conheceu sua primeira esposa, Irene; eles se casaram e tiveram uma filha, a Juliana; ela conta um pouquinho sobre a relação dos pais: "a minha mãe sempre me conta que ela queria ficar com o meu tio, mas quando chegou na hora, ela conheceu o meu pai, e ele a fez rir tanto, mas tanto, que ela preferiu ficar com ele. Aí eles começaram a namorar. Minha mãe diz que ele sempre a tratou como uma princesa, nunca deixou faltar nada". Quando Juliana tinha cerca de três anos eles se separaram, mas sempre mantiveram uma relação de amizade e continuaram um ajudando o outro.

Quando Juliana tinha seis anos, Edir começou a namorar Rosa Lídia, sua segunda esposa. Com ela teve o segundo filho, Kássio, e também passou a cuidar da enteada, Katarina, como se fosse sua filha. Ele era apaixonado pela esposa e os dois se tornaram inseparáveis. Sempre faziam coisas diferentes juntos, como trilhas e karatê. Para Juliana, era muito bonito ver a relação dos dois, eram sua "meta de casal", como diz. Permaneceram juntos até o fim.

Juliana fala do pai com emoção: "ele nunca me deixou faltar nada, principalmente amor. Teve um carinho e um cuidado muito grande, que eu sempre percebi. Era um pai muito presente. Depois que me mudei para São Paulo, a gente se ligava de madrugada, porque os dois não conseguiam dormir; e eram horas e horas ao telefone conversando. Se eu precisasse de algo, ele me mandava. Ele sempre me apoiou em todas as minhas escolhas, todas mesmo, até quando não concordava; ele só falava 'ah, eu não sou a favor disso, mas vou respeitar, porque é a tua opinião'".

Edir tinha um carinho muito grande pela comunidade do bairro em que estava inserido e gostava muito das amizades que construiu por lá. Foi onde viveu as principais fases da sua vida, seu casamento, o nascimento da primeira filha e experimentou muitas situações alegres e marcantes. Continuou morando ali por muito tempo e mesmo depois que se mudou para o interior de Belém, nunca conseguiu se desgrudar — estava sempre andando pelo bairro. O Telégrafo foi uma das coisas mais importantes da vida dele, na opinião da filha Juliana.

Sempre preocupado com quem amava, Edir gostava de estar presente na vida das pessoas, seja ligando para saber como elas estavam, seja visitando; aliás, ele amava fazer visitas-surpresa. Se estivesse no shopping e visse algo que o fizesse lembrar de alguém, logo comprava e levava para essa pessoa. Uma característica marcante de Edir era que ele não deixava faltar nada a ninguém: o que estava ao seu alcance, fazia para ajudar. "O tanto de carinho que ele pudesse dar, fosse um presente, um abraço ou uma ligação, ele dava", diz Juliana.

Edir trabalhou a vida toda com contabilidade. Sempre foi apaixonado por finanças, e estava a todo momento se arriscando no mercado; abriu uma mercearia, fechou; depois abriu outro negócio, com pizzas; até que abriu uma empresa de Recursos Humanos, com Rosa Lídia, onde os filhos sempre podiam estar. Ele atendia todas as pessoas com bom humor e fazendo piadas, assim como costumava ser em sua vida pessoal.

Edir era tido como teimoso pelos filhos, mas compensava os momentos de teimosia com as brincadeiras: fazia os filhos rirem e se esquecerem dos problemas. Além deles, todos na sua família de 12 irmãos tinham uma história para contar sobre o Edir. Juliana conta: "o meu pai tinha um jeito muito característico, que por si só já era engraçado; era como se fosse um personagem, mas era ele mesmo. O jeito dele falar, de se mexer e de soltar umas piadas do nada. Se ele percebesse que você estava passando por uma situação difícil, ele ia lá, conversava e inventava umas histórias 'nada a ver', que ele tirava da cabeça dele na hora. Era engraçado".

E ele amava fazer as pessoas rirem! Embora não falasse, fazia uma expressão de extrema felicidade e até de orgulho de si mesmo quando conseguia trazer alegria para quem estava diante dele; e apesar de gostar de ouvir as pessoas rindo, sua própria risada era quietinha, para dentro, daí ficava vermelho e ia fechando os olhos. "Era muito engraçado de ver. As vezes não saia som algum, e ele ficava lá, se balançando, com os olhinhos fechados", conta a filha Juliana.

Edir falava baixo, tinha uma voz grossa e sempre respirava fundo no meio do raciocínio; era uma característica marcante, sua fala era no seu tempo.

Seus hobbies eram cozinhar e assistir a filmes e séries; ficava sempre muito feliz em cozinhar para a família. Os pratos que mais gostava de fazer eram pão e pizza; e se decidisse fazer pizza à noite, desde cedo já se preparava, todo feliz, porque sabia que seria o momento de estarem todos juntos para comer. Era assim também quando assistiam a filmes, quase todo final de semana: ele reunia todos os que amava, escolhiam o filme e preparavam a comida, sempre juntos na sala. Juliana conta que quando começou a morar longe do pai, ele cozinhava e mostrava os pratos, todo orgulhoso: "olha como ficou, olha como tá bonito".

Nas horas livres Edir amava jogar conversa fora, como diz a expressão popular. Gostava de falar sobre qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, de assuntos do dia a dia a assuntos específicos: tudo era motivo para ele puxar conversa. Mas se tinha um assunto que ele gostava mais de falar, era de seriado. A série Lost era a sua favorita, assistiu várias vezes, e mesmo que assistisse a outras que lhe fossem indicadas, ele dizia: "ah, essa não é tão boa quanto Lost".

Com Edir não tinha tempo ruim. Acreditava que as coisas aconteciam, porque tinham que acontecer, e que tudo dava certo no final. Juliana finaliza dizendo o que mais admirava no pai: "ele sempre tinha essa visão muito positiva da vida. Admirava isso, e o carinho que ele sentia por cada pessoa que tinha na vida dele, o cuidado que ele queria ter com cada pessoa, não só da família".

Edir amava rir e fazer rir; esse bom humor deve estar agora fazendo a alegria do céu.

Edir nasceu em Monte Alegre (PA) e faleceu em Belém (PA), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Edir, Juliana de Nazaré Neves Bezerra. Este tributo foi apurado por Ana Laura Menegat de Azevedo, editado por Karina Zeferino, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Rayane Urani em 25 de agosto de 2021.