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Edite Mota Dias

1939 - 2020

Viveu costurando afetos e multiplicando amor.

Edite, Dite, Ditinha, dona Edite, tia Edite, mãe, mainha, vovó Dite, Edite de Dio... Eram tantas em uma só.

Não é uma tarefa fácil resumir oito décadas dessa bela, esbelta e jovem senhorinha. “De cabelos branquinhos, como algodão, parecia uma Vovó Johnson da TV!”, lembra com carinho, uma de suas filhas, Maria Edinisia.

Edite foi criada na roça, no interior da Bahia. Ainda menina, trabalhou na enxada junto com os irmãos. Só estudou até o primário, mas isso nunca a abalou. Sempre teve sede de aprender e de trabalhar. Ainda jovem, foi para a capital baiana e trabalhou como representante de medicamentos e vendedora de uma loja "chique", bem no centro de Salvador. Lá, reencontrou-se com um conterrâneo, Dionísio, a quem todos sempre chamaram carinhosamente de Dio. Casaram-se, para a felicidade de todos.

Depois de casados, foram morar na cidade de Catu. Tiveram seis filhos biológicos, todos de parto natural, em casa; e um filho do coração. O casal tinha o grande dom de atrair as pessoas para a sua convivência. Mesmo na vida simples, proporcionaram aos filhos uma infância feliz, com muito circo, praia, parque, primos, brincadeira na rua, festa junina, missa do galo, procissão... “Tivemos o privilégio de sermos filhos de uma mãe muito amorosa e de um pai bastante presente. Ela ensinou-nos a andar, a falar o primeiro bê-á-bá, a tratar bem as pessoas e respeitar os mais velhos”, relata Maria Edinisia. Os filhos cresceram e acrescentaram à família mais oito netos.

Com a aposentadoria de Dio, realizaram a viagem dos sonhos para a dona Edite: “Foram vinte dias rodando de ônibus, em uma excursão pelo Brasil. Ela sempre se lembrava maravilhada das Cataratas do Iguaçu, da visita à filha em Brasília, da aventura de deitar-se no gramado com os outros viajantes e olhar para o céu estrelado de Aparecida de Nossa Senhora. E a única viagem internacional do casal de matutos: atravessaram a fronteira para umas comprinhas no Paraguai. É... Ditinha já foi longe!”

Era bem-humorada, mas também brava. Sempre foi guerreira, determinada e, ao mesmo tempo, frágil. Acima de tudo, muito solidária. Ajudou muita gente, das mais diversas maneiras possíveis. Todos os anos, fazia questão de doar cestas básicas para famílias carentes.

Sim, definitivamente, foi uma bela existência. Uma fantástica jornada. Seguiu semeando e colhendo amor. Costurando afetos e conquistas nas entrelinhas da vida.

Edite nasceu em Santo Antonio de Jesus (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Edite, Maria Edinisia Mota Dias. Este tributo foi apurado por Malu Marinho, editado por Marcela Matos, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 11 de agosto de 2020.