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Edith Pio Mororó

1940 - 2021

Tinha uma capacidade única de rir de si mesma, achando graça nas coisas mais simples da vida.

Edith era uma mulher muito ativa. Uma líder nos espaços sociais que participava. Na igreja Batista, assumia cargos de direção, cuidava da decoração do templo, estava sempre atenta às necessidades dos membros e dos pastores da igreja. Também fazia parte de associações mantenedoras de escola e de atenção à criança e adolescentes em risco social, onde atuava de forma vibrante, cuidando desde o orçamento até a escrita das atas, sempre a par de tudo. E fazia tudo isso com muita leveza e alegria. Nada lhe era pesado demais.

Essa energia era presente em todas as áreas da sua vida. Dentro de casa, ela já acordava feliz, fazia sua devocional leitura da Bíblia e oração, se arrumava - nunca saia do quarto de camisola - e conduzia a rotina da casa. Era o centro da família e nada lhe escapava: estava sempre atenta às necessidades de todos, das mais sérias até a fantasia que o neto queria que ela lhe costurasse. Tinha diversos talentos, que expressava ao coser fantasias, artigos para casa, fazer bordados e pintar quadros.

Foi professora e orientadora educacional até se aposentar. Colegas e alunos nunca se esqueceram dela. Era o equilíbrio em pessoa e uma administradora de conflitos nata: tinha sempre uma solução pacífica para tudo! Fez o curso de Pedagogia, então a educação e a prática educativa foram seus focos de interesse por muito tempo. Agora, já aposentada, estudava sobre as coisas que gostava de fazer: pintura, viagens, decoração. E, claro, os estudos bíblicos, porque nunca deixou de ser professora, algumas vezes diretora, da escola bíblica dominical.

Antes da sua carreira como pedagoga, com vinte e poucos anos, foi secretária de uma empresa de laticínios, onde conheceu seu esposo. Se conheceram, começaram a namorar e se casaram em menos de um ano. Ficaram casados e felizes até o falecimento dela. Uma vida inteira juntinhos, e mesmo que com suas diferenças, mantinham em comum o projeto de família, a fé, os princípios morais. Junto de seu marido, Edith teve cinco filhos e costumava dizer que ser mãe era muito bom, mas ser avó não tinha adjetivo. Os nove netos a amam de paixão e são todos loucos por ela.

Leila, ao lembrar de seus pais, conta: "Eles eram muito diferentes! Então não tinham costumes em comum a não ser a igreja. Minha mãe sempre gostou de viajar, de conversar, de fazer visitas, de dar presentes de surpresa, sem datas especiais... meu pai é tímido, introspectivo, detesta viajar e fica cansado logo de conversar. Ele gosta de mexer com a terra e com bichos. Minha mãe também gostava de plantar, mas enquanto meu pai planta verduras, frutas, minha mãe gostava de plantar flores e plantas ornamentais. Quando fez 30 dias da morte dela, meu pai, que nunca tinha plantado flores, encheu a lateral da casa de orquídeas e outra flores em homenagem a ela. E fomos todos, filhos, genros e nora, netos e netas, plantar com ele."

Toda sua luz e sua beleza interna transbordavam em sua aparência e no jeito que ela escolhia e se dedicava para se apresentar ao mundo. Ela foi a moça mais bonita de sua turma e a senhora mais linda da sua velhice. Não parecia ter 80 anos, era muito vaidosa, mas sempre discreta. Quando foi internada, pediu a seu filho que não esquecesse de levar para o hospital os seus cremes faciais. Nunca esquecia de colocar o pó e o lápis de olhos, o cabelo e as sobrancelhas jamais ficavam despenteados. Na bolsa, sempre carregava lixa de unhas, pinça e, claro, um lápis de olho. Jamais deixava as raízes brancas do cabelo aparecerem e, do jeito que era, ela mesma quem pintava as madeixas. Com muito cuidado consigo mesma, sempre estava arrumada e cheirosa. Ela gostava de usar calças de alfaiataria e blusa em tecido. Seu modelo de blusa preferido era a que tem mangas morcego. Os sapatos sempre precisavam ter saltos, pois era baixinha. Para a igreja ou festinha, o vestido era a sua escolha preferida. Vestidos acinturados que deixavam evidente sua cintura e a ausência de barriga. Suas roupas eram de diversas cores, utilizando do seu bom gosto para escolher e combinar suas roupas.

Ela era aquela mulher forte e doce, aquele tipo de pessoa que não anula ninguém, muito pelo contrário, fortalece quem estiver por perto. Leila, sua filha, costuma afirmar que o mundo terá que produzir outras Ediths por aí afora para que a gente volte a aumentar o que hoje temos como "baixa humanidade".

Em tudo que foi, Edith foi um exemplo de vida para todos que a conheceram. Sua beleza e força vivem nas lembranças de todos. Como sua filha Leila conta, "Vejo minha mãe como um bambu, que é uma planta que parece frágil, delicada, mas é muito resistente. Uma planta que é muito diversa, que pode ser usada desde a decoração, por ser bonita, até na construção, por ser resistente. Uma planta que é do mundo e não de uma só região. Acho que é isso! Minha mãe sempre enfrentou a diversidade, as suas perdas com muita dignidade, com muito equilíbrio. Ela também sempre respeitou o tempo: o tempo dos seres humanos; o tempo das plantas; o tempo dos acontecimentos; o seu tempo. Ela tinha uma clareza de que nada era definitivo, que nada duraria para sempre. E agora, diante de toda essa dor, acho que aprendemos isso com ela."

Edith nasceu em Maiquinique (BA) e faleceu em Salvador (BA), aos 80 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Edith, Leila Pio Mororó. Este tributo foi apurado por Luisa Pereira Rocha, editado por Paula Garcia Corrêa, revisado por Walker Barros Dantas Paniagua e moderado por Rayane Urani em 16 de agosto de 2021.