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Edival Aparecido do Prado

1974 - 2021

Coração puro como o de uma criança, paixão pelos quadrinhos e o abraço apertado mais acolhedor do mundo.

Ele era de Bela Vista do Paraíso, interior do Paraná, onde conheceu sua esposa e se casou; aos 20 anos, teve a filha Ana Carolina e divorciou-se quando ela tinha 10 anos.

Edival tinha um coração enorme e sempre foi amoroso com todo mundo. Não via maldade em ninguém e não queria o mal para quem quer que fosse, assim como não revidava o mal que lhe faziam, pois, seu coração era doce e puro como o de uma criança.

No trato com as pessoas, era brincalhão e tratava bem a todos. Nunca se importou com bens materiais, porque acreditava que o que ele tinha a oferecer para as pessoas, nenhum dinheiro comprava: honestidade, amor, carinho e caráter.

Gostava de tratar todos de igual para igual, sempre sorrindo ou rindo alto, fazendo piada, contando histórias e, por mais que as coisas estivessem difíceis, ele agradecia por tudo. Frequentemente deixava suas vontades de lado para atender as vontades dos outros, mas esse era o jeito dele viver a vida e ninguém conseguiria mudá-lo. Ele tinha pouco, mas esse pouco era tudo para ele pelo tanto que sabia aproveitá-lo.

Trabalhava como tratorista na lavoura de seu pai. Estudou em uma Escola Agrícola e, embora não tivesse terminado o curso, amava a fazenda, os tratores e gostava de contar em detalhes as histórias sobre as máquinas de seu trabalho. Nos últimos tempos trabalhava também em uma usina e mostrava vídeos dos tratores como se fossem a melhor coisa do mundo! Ali ele ganhava pouco, mas amava o que fazia.

Católico e de muita fé, falava em Nossa Senhora Aparecida com frequência, acreditando que as coisas iriam melhorar. Muito otimista, não reclamava de nada — tudo para ele estava bom e não havia dia ruim.

Edival tinha na vida muito lazeres. Amava jogar videogame, ler gibis, colecionar revistas em quadrinhos e sua coleção chegava a aproximadamente 500 itens com histórias de Marvel, Star Wars e outras. Na vida real, era dotado de poderes maiores que os dos super dos seus gibis: carisma, empatia, compaixão e alegria, entre tantos outros.

Era um apaixonado pela vida e pelos simples detalhes. Gostava de tomar o seu tereré, pedir pizza ou lanche e assistir a filmes de ação e de super-heróis. Amava maratonar filmes, séries e desenhos. Tinha uma paixão especial pelo basquete e ensinou a filha Ana Carolina a jogar quando ela ainda era pequena e deu-lhe de presente a primeira bola que fez questão de comprar com detalhes em rosa.

Ela conta sobre ele:

“Ele sempre foi um pai muito amoroso, carinhoso e com uma paciência que, no final das contas, só ele tinha. Sempre que podia vinha me visitar. O seu passatempo favorito era ficar com a família, os amigos e curtir as duas filhas.

Ele tinha 46 anos, mas a alma dele não tinha essa idade. Uma das últimas vezes em que o vi foi quando ele me chamou pra comer um lanche na sua casa. Ele estava sem dinheiro, mas eu fui ao mercado e comprei o que precisávamos para os lanches. Colocamos um filme, assistimos, comemos, rimos, conversamos, nos abraçamos. Aquilo era a melhor coisa do mundo para ele, que ficava feliz com esses momentos que compartilhávamos! Como ele ficava alegre só de estar ali comigo, curtindo uma noite juntos!

Meu pai era a pessoa mais amorosa, atenciosa e carinhosa que eu já conheci em toda minha vida. Ele só via o lado bons das coisas, era bom demais, e eu pensava: 'Como um ser humano pode ser tão bom assim?'

Eu nunca conheci alguém com a personalidade ou o jeito parecido com o dele. Ele era único. As pessoas são insubstituíveis. Por que os bons morrem cedo? Eu tive que entender que ele era bom demais para estar neste mundo, o mundo não merecia uma pessoa maravilhosa, e com coração tão puro igual a ele. Para mim, sempre será uma das pessoas mais admiráveis que já passou pelo mundo.

O abraço dele sempre era intenso e super apertado! Como eu sinto falta daquele abraço! Eu sei que nada no mundo vai suprir a falta que ele faz — e que nada que eu faça trará ele de volta —, mas sei que onde quer que ele esteja, sempre estará comigo."

Edival nasceu em Bela Vista do Paraíso (PR) e faleceu em Dourados (MS), aos 46 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Edival, Ana Carolina de Lima Prado. Este tributo foi apurado por Lucas Cardoso, editado por Vera Dias, revisado por Maria Eugênia Laurito Summa e moderado por Ana Macarini em 6 de março de 2023.