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Edmar da Silva Oliveira

1959 - 2021

Era o rei do suco, habilidade cultivada como arte para mimar os filhos.

Ed, como era conhecido pelos amigos, nasceu em Manaus, mas passou a infância e adolescência em Autazes, onde se dividia entre a vida na fazenda e a ajuda ao pai em sua loja de ferragens. Apaixonou-se pela prima, Eliana, que morava em Manaus e casou-se com ela voltando para a capital. O nascimento da filha, Kétura, foi um motivo de alegria e união para a família. Foi, ainda, pai do Edmar Júnior e avô do “garotito” Nicollas, como costumava chamar o neto, que era sua paixão e com quem passava muito tempo.

Em Manaus, Edmar aproveitou as oportunidades que surgiram para realizar os mais diversos trabalhos. Com pouco estudo, mas muito bom de serviço, trabalhou como motorista de táxi, depois de caminhoneiro, foi entregador e vendedor. Como vendedor, atuava no ramo de alimentos, vendendo bebidas, café, carnes, queijos, polpas de fruta. Diante de dificuldades de manter um emprego de vendedor em Manaus, retornou a Autazes onde trabalhou como motorista de transporte escolar.

Edmar e Eliana sempre foram muito unidos e, quando ele precisou mudar de cidade para trabalhar, foi muito difícil, porque ele passava quinze dias por mês sem a esposa, que se desdobrava entre as duas cidades para cuidar dos filhos em uma e do marido na outra. Até que, aos poucos, ela foi ficando e de repente já estavam morando o mês inteiro juntos.

A cumplicidade entre os dois podia ser vista na forma doce com que se tratavam, o dia a dia simples era cheio de carinho, até mesmo no cuidado à mesa, onde ambos faziam todas as refeições juntos. Briga mesmo só às vezes quando Edmar ficava monopolizando o controle remoto para assistir todas as partidas de futebol, sua segunda paixão depois da esposa. Ele era flamenguista roxo, ou melhor, rubro negro! Empolgado com o time do coração, tinha até bordão para dias de jogos: “Hoje tem máquina em campo!" E se divertia ao implicar com quem torcia para outros times. Cada vitória de campeonato era uma festa, a de 2019 então?! Foi um espetáculo inesquecível!

Os filhos exaltam sua habilidade de transformar qualquer fruta em um delicioso suco, o que o rendeu o título de "Rei do Suco". “Vocês não sabem fazer um bom suco. Só eu domino a arte”, gabava-se. Tinha como costume, distribuir frutas e pipoca para os filhos antes de dormir, numa espécie de delivery caseiro, batendo nas portas dos quartos. Era uma forma gentil e carinhosa de demonstrar o amor e o cuidado com os seus.

Bem-humorado, era difícil alguém ficar triste perto dele. O amigo Ed sempre tinha uma brincadeira ou piada pronta de improviso. Sua coleção de piadas sem graça que faziam rir, também eram uma marca de seu caráter brincalhão. Seu espírito jovem alinhava com a juventude da família e era uma unanimidade entre os sobrinhos e amigos do filho. Não era muito de demonstrar os sentimentos, e, às vezes, passava um ar de durão, mas era alguém que não perdia a fé e sempre tinha certeza de que tudo ia se resolver. Ensinou com seu exemplo que se deve ver a vida com leveza e esperança, mesmo quando tudo estiver dando errado, temos que confiar. Uma hora tudo se ajeita e volta para o seu devido lugar.

Edmar nasceu em Manaus (AM) e faleceu em Manaus (AM), aos 61 anos, vítima do novo coronavírus.

Testemunho enviado pela filha de Edmar, Kétura Lopes Oliveira. Este tributo foi apurado por Larissa Reis e Rayane Urani, editado por Ana Clara Cavalcante, revisado por Renata Nascimento Montanari e moderado por Rayane Urani em 22 de maio de 2021.